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VOPO – Uma antropofagia periférica

Coletivo da EMEF General Paulo Carneiro inspira escolas da região por meio da poesia periférica e ações culturais e sociais

Publicado em: 21/12/2017 13h26 | Atualizado em: 04/05/2021

Com três anos de existência, o Coletivo VOPO – Vozes Poéticas, da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) General Paulo Carneiro Thomaz Alves, da Diretoria Regional de Educação (DRE) Jaçanã/Tremembé, dobrou o número de participantes desde o seu início e tem inspirado muitas escolas da região por meio da poesia periférica e ações culturais e sociais que promovem. Em 2017, cerca de 40 estudantes do grupo tiveram suas poesias publicadas em um livro de coletâneas.

Com muito protagonismo e criticidade, estudantes do 5º ao 9º ano estão mostrando a voz da juventude do Parque Vila Maria, bairro periférico da zona norte da cidade. O grupo é liderado pelo Professor de História Felipe Yanez, que há seis anos leciona na EMEF. O professor conta que o grupo foi fundado pela iniciativa dos próprios alunos, como um desdobramento de um dos projetos da unidade no contraturno escolar sobre cultura Latino Americana. Lá, as poesias em espanhol apresentadas serviram de inspiração para que eles iniciassem a escrita de seus próprios textos. O grupo começou com cerca de 20 estudantes e atualmente já possui 50 integrantes.

O professor Felipe conta que quando o VOPO foi fundado alguns objetivos eram muito claros: não ser um projeto que apenas ficasse restrito aos muros da escola; compromisso sério com a comunidade; não recusar convites, permanecendo sempre com uma arte engajada; trabalhar a renovação do grupo, despertando o interesse nos mais novos em fazer parte do VOPO e incentivar outras escolas a criarem seus próprios movimentos culturais onde os jovens são protagonistas do processo. “Chegamos ao fim de 2017 com alguns destes objetivos atingidos satisfatoriamente”, comemora o professor.

No entanto, o professor conta que algumas experiências não estavam traçadas como objetivo, mas que contribuíram demais com o desenvolvimento do grupo. Ele destaca o contato com poetas periféricos conhecidos, como Alessandro Buzo, Akins Kintê, Debora Garcia, Mel Duarte, Vagnão da Brasa e Binho, em atividades fora da escola e recebendo a visita de Cleyton Mendes, Paulo Dauria, Cissa Lourenço, Ni Brisant, Mariana Felix e Sergio Vaz na EMEF. “Foi o ponto alto deste ano a presença do maior nome da poesia marginal, Sérgio Vaz”, comemora Felipe.

Além dos muros da Escola – O professor conta que o que os integrantes se abastecem das referências do hip–hop, das artes, do cotidiano do lugar onde vivem e misturam com poesia, música e performances. Pare ele, o resultado é uma grande “Antropofagia Periférica”.

“Queremos em 2018 estabelecer uma sede na comunidade do Parque Vila Maria para enraizar um Centro Cultural e conseguir alguma forma de financiamento para manter as idas até os Saraus, Slam e outros eventos poéticos! Como tenho fé no povo, eu creio que o próximo ano será ainda de muitas realizações”, ressalta Yanez.

Militância – O comprometimento social dos estudantes e professores envolvidos no VOPO vai além do ambiente e escolar. O movimento tem se manifestado contra o processo de reintegração de posse da Ocupação Douglas Rodrigues, situada no bairro da escola e onde duas mil famílias vivem há cerca de cinco anos. “Os estudantes do Paulo Carneiro majoritariamente moram na ocupação e a escola não pode fechar os olhos para o que está acontecendo. Nós estamos buscando conscientizar sobre a luta por moradia, que a moradia é um direito”, ressalta o professor.


Parcerias
– O VOPO já foi convidado para saraus em diversas escolas do entorno, se apresentou em eventos da Diretoria Regional de Educação (DRE) Jaçanã/Tremembé e, recentemente, cerca de 40 estudantes do grupo tiveram suas poesias publicadas em um livro de coletâneas. A publicação foi conquistada por meio de uma parceria com o Coletivo Poetas do Tietê, no Projeto Veia e Ventania 2017. No livro há também poesias do Coletivo AMOR (Arte Movimento Rebeldia), da EMEF Marechal Rondon, que iniciou o coletivo após ter o contato e incentivo do VOPO. O evento de lançamento do livro ocorreu no dia 9 de dezembro, na Biblioteca Afonso Schmidt, na Freguesia do Ó. Na ocasião, os estudantes autores puderam autografar os exemplares.

Kauã Cardoso tem 14 anos e cursa a 8º série na EMEF Paulo Carneiro. Há cerca de um ano ele participa do grupo. “Antigamente eu conhecia um pouco de literatura, mas, com o VOPO, eu conheço muito mais. Isso me transformou de vez! Eu nunca achei que favelados poderiam lançar um livro!”, disse o garoto, que teve um dos seus poemas publicado.

Felipe ressalta que o sucesso do grupo é o resultado de muito trabalho coletivo com os estudantes, militância, parcerias entre professores de diversas disciplinas, incentivo da equipe gestora e supervisão, além do apoio das famílias.

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