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Estudantes da Rede Municipal de 4 e 5 anos exploram o centro de São Paulo com suas motocas
Promovido pela EMEI Armando de Arruda Pereira, projeto permite que crianças circulem pela capital, ampliem espaços de aprendizagem e ainda distribuam desenhos e chá
Publicado em: 16/08/2022 13h37 | Atualizado em: 18/08/2022
“A gente gosta de andar de motoca na praça. Gostei de ir lá na biblioteca, tem muitos livros. Era longe. Demorou e cansamos um pouco. Aprendi que na rua quando é descida, a motoca escorrega e quando é subida temos que carregar a motoca”, contou Ana Vitória Rodrigues Araujo, 5 anos, para sua professora Lívia Arruda, idealizadora do projeto “Motoca na Praça: andanças e aventuras na Praça da República”.
Por meio dele, crianças de 4 e 5 anos têm se aventurado com suas motocas para passear no entorno da escola e conhecer os lugares próximos.
A ação acontece na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Armando de Arruda Pereira, localizada na Praça da República, centro da cidade de São Paulo, desde 2019 e participam professoras e professores de várias turmas.
“No projeto, a cidade é vista como um grande espaço de brincadeira e aprendizagem. Quantas coisas as crianças descobrem quando têm a possibilidade de olhar com atenção o entorno que vivem? As professoras e professores que acompanham o grupo buscam mediar essa relação da criança com a cidade, atentas ao olhar e também a curiosidade da criança”, comenta a professora Lívia.
Ela acrescenta que desta forma “é possível criar nas crianças um senso de pertencimento à Praça da República e ao Centro de São Paulo, de modo que elas se apropriem desse espaço, entendendo como seu território”.
O objetivo principal é aproximar as crianças do território em que vivem e estudam, e criar outros significados, para além de ser apenas local de passagem, já que a maioria delas é moradora da região central. O projeto pretende ainda ressignificar a forma como a Praça da República é vista para além de um lugar degradado e perigoso, que não seria um espaço para crianças brincarem.
Portanto, a proposta da EMEI é abrir os portões da escola e ampliar os espaços de brincadeira e aprendizagem. Explorar a natureza, a arquitetura, os prédios históricos próximos, trazer uma interação humanizada e afetiva com as pessoas que por ali estão. E que as crianças sejam vistas como participantes da cidade.
Para a diretora da EMEI, Eni Pereira de Souza, “o projeto Motoca na Praça possibilita uma interação plena com o território, partindo do olhar da criança e fazendo com que elas sejam enxergadas pelos adultos. O entorno da Praça da República tem uma diversidade própria das grandes cidades, onde cabe o mundo, mas a criança passa despercebida. Nada melhor do que ofertar às crianças vivências que as possibilitem fazer parte desta diversidade, explorar, interagir, modificar e usufruir de tudo que o território oferece”, complementa.
Preparativos
Antes de colocar as motocas na rua, as crianças exploraram os espaços internos da escola. Também foram realizadas rodas de conversa sobre o tema ‘cidade’ para levantar conhecimentos prévios das crianças: onde moram, em que cidade estão, se sabem onde fica a escola que estudam.
Leituras como “A caminho da escola”, de Rosemary McCarney, foram assuntos geradores de bate-papo sobre a forma das crianças irem pra escola e o que observavam pelo caminho. Elas também desenharam um mapa individual do trajeto casa – escola. Após o contato inicial com as motocas, as pedaladas, as conversas, crianças e professores partiram para explorar o entorno da escola – a Praça da República.
O desafio foi andar de motoca semanalmente pela praça. As primeiras saídas começaram com um trajeto mais curto, contornando as grades da unidade. Aos poucos, a distância dos passeios aumentou e adentraram mais a praça para observar as pontes, o lago e os peixes. Além de observar a natureza, se dedicaram a perceber as pessoas, os prédios e a saída do metrô. Com a experiência que adquiriram, as crianças passaram a indicar seus caminhos preferidos.
Os participantes aprovaram a aventura. “Eu gosto de vir para a escola e andar de motoca na praça, adorei atravessar a rua e descer a ponte”, diz Thaila Silva de Oliveira, 4 anos.
A Eliza Gabrielle Pires Silva, 4 anos, também concorda e comenta: “Eu gosto de andar de motoca, de desenhar a rua, de ir na biblioteca, de atravessar a rua e ver as árvores.”
Registrando o trajeto
Sair semanalmente com as crianças de motoca na praça, reavaliar o planejamento, fazer rodas de conversa para conversar sobre os novos aprendizados e retomar combinados referentes à segurança, observar o que mais chama atenção no caminho. São as atividades propostas no projeto.
Para que as crianças possam registrar seu olhar sobre a praça, os educadores propõem que elas façam registro por meio fotográfico. Para isso, algumas crianças são escolhidas a cada saída para tirar fotos do que mais chamou sua atenção.
Desenhos de observação com o uso de pranchetas para as crianças desenharem alguns pontos da praça também são momentos que proporcionam o desenvolvimento de aprendizados e novas habilidades. “Eu gostei de desenhar o prédio amarelo e de ir muito longe. É muito legal”, contou Rafael Batista da Silva, 4 anos, se referindo ao prédio da Secretaria Estadual de Educação.
Há ainda destaque para a interação com as pessoas que estão ou passam pela Praça de República ou, ainda, que têm o privilégio de cruzar com as crianças pelos espaços do centro da cidade.
Desenhos e chá quentinho para acolher os trabalhadores da praça
De repente, surge uma ideia. Numa manhã de maio, o desafio foi encontrar garis que trabalhavam na Praça da República para entregar desenhos e chá de camomila quentinho para eles, em homenagem ao Dia do Gari, comemorado em 16 de maio.
À noite, a professora Eucilene Aparecida Rodrigues de Souza, mais conhecida como Cica, sugeriu para a professora Lívia essa ideia. No outro dia cedinho, Lívia falou com a professora Ivone Moreira que preparou tudinho – a panela elétrica, garrafas térmicas, copos descartáveis e, claro, o chá quentinho. O convite também se estendeu para a turma da professora Eliana Mayumi. E assim saíram pela praça com suas motocas, desenhos e chá quentinho para encontrar os trabalhadores e trabalhadoras que cuidam da limpeza da praça.
Encontraram Edna, uma das trabalhadoras e outros colegas dela também. Ela ganhou muitos desenhos e o chá. Os desenhos que ganhou iria entregar para sua neta de quatro anos. Edna também falou para as crianças não jogarem lixo no chão.
A Emily de Lima Rodrigues, 4 anos, lembra desse momento. “Eu gosto de andar na praça da república porque é muito legal. Num dia fizemos chá para as pessoas”, disse.
Nesse dia, na Praça da República, muitas outras pessoas também ganharam um chá quentinho, preparado com muito carinho na escola e entregue pelas meninas e meninos com suas motocas. As crianças descobriram que para encontrar os garis, elas precisariam sair mais cedo porque assim que eles fazem seu trabalho ali no entorno, logo se deslocam para outro local.
Para a professora Cica o projeto traz de uma forma muito assertiva e sensível a educação humanizada. Ela diz que “É notório a importância das relações estabelecidas e restabelecidas entre as crianças e os pedestres, moradores das praças, trabalhadores da praça e do entorno em suas diversas possibilidades”.
Ela conta ainda que “Foram nessas andanças, aventuras e ocupações da praça e do centro, que as crianças foram descobrindo a cidade, marcando território e ignorando as barreiras sociais. Levaram em suas motocas a riqueza na troca de olhares, gentilezas, risadas, presentes em forma de desenho, dessa forma aqueceram os dias frios e ocuparam os equipamentos públicos”.
Apoio da gestão
Para ideias como essa acontecerem na EMEI Armando Arruda Pereira, a professora Lívia conta que a gestão da escola trabalha no sentido de dar apoio para a realização do projeto, bem como para que as professoras tenham autonomia nas decisões e avaliações com relação às saídas de motoca.
“Parte da ideia do projeto é que as saídas de motoca não sejam grandes eventos e nem tão complexos, mas que seja algo que está incorporado no cotidiano. Nesse sentido, a gestão abre espaço para a flexibilidade de planejamento porque as saídas passam a fazer parte da vida escolar”, acrescenta Lívia.
Oficinas com parceiros
A participação de artistas como Rayssa Oliveira, formadora de educadores, do Ateliê Itinerante Andorinha, e do escritor e ilustrador, Renato Moriconi, enriquece as ações do projeto. Com Rayssa as turmas participaram da oficina de observação das motocas para desenhá-las. A partir desses desenhos, Rayssa está contribuindo com a criação da identidade visual para desenvolver a logomarca do Motoca na Praça e digitalizou esses desenhos.
Já Renato acompanhou as crianças em uma saída de motoca para fazer desenho de observação do entorno. Antes de saírem da escola, ele conversou sobre os seus livros, sobre como é o trabalho de escritor e do ilustrador. E a Nicolly Silva Araújo, 4 anos, falou se referindo a ele que “Foi divertido e muito legal desenhar com o desenhista”.
Novas descobertas: o que vem por aí
As turmas já visitaram o SESC 24 de Maio e puderam ‘estacionar’ suas motocas no bicicletário do local. Foram na biblioteca Mário de Andrade. Pedalaram até o Correio para postar uma carta de resposta que receberam do Colégio Equipe.
Em junho, a pedalada de motoca chegou ao Espaço Cultural Pivô, localizado no Edifício Copan – “o prédio da onda”, como dizem algumas crianças. E, agora em agosto, também estiveram no Centro de Memória do Circo, na Galeria Olido.
As meninas e os meninos da escola gostam das descobertas e aprendizados que o projeto proporciona, algo que pode ser observado em suas falas durante as conversas com a professora. “O projeto é legal porque a gente anda de motoca na praça. Eu adorei ir ao Sesc”, disse a Heloisa Barbosa Coutinho, 6 anos.
Já o Iancuba Con Macedo de Queita, 4 anos, respondeu “Eu gosto porque eu nunca andei de motoca na rua. E também gostei do SESC e de ir na biblioteca, lá contaram uma história para a gente. Na praça tem muitas árvores. Quando saímos para desenhar, eu desenhei a ponte”.
Até o final do ano letivo, pretendem ir ao Theatro Municipal, porém será a primeira vez que entrarão para conhecer o espaço, pois já chegaram até a frente do local. Querem ir ainda em muito mais passeios em parceria com equipamentos culturais próximos da escola.
As professoras e as crianças das EMEIs Armando Arruda Pereira e Monteiro Lobato, que também fica na região da Consolação, estão planejando uma visita entre as escolas. Para chegar ao destino, pretendem usar transporte público, metrô ou ônibus. Primeiro a turminha da Monteiro Lobato irá até a Praça da República pedalar com a motoca dos amigos por lá. Depois, será a vez das crianças da Armando Arruda irem até a Monteiro Lobato andar de motoca na Praça Buenos Aires.
A professora Regina Stela Cochar Pisani fez a placa de identificação do projeto. Nela há uma motoca feita de patchwork e o nome da escola e do projeto bordado em letras coloridas. Além das motocas e da placa de identificação, quando saem para suas aventuras, eles usam coletes azuis, verdes, amarelos ou laranjas. As crianças são cuidadosas com seus coletes, inclusive, há momentos para lavarem os mesmos e, como registraram em seu no perfil do Instagram, saírem ‘cheirosinhos’ com eles.
E, se você tiver sorte, quem sabe encontra com essa turminha pelo centro da cidade. Gostou do projeto? Então acesse o perfil no Instagram do Projeto Motoca na Praça e veja mais sobre as “andanças das crianças”.
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