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Professores da RME compartilham experiências vividas na SXSWedu

Palestras, workshops e visita a escola fizeram parte da programação

Publicado em: 29/03/2017 12h12 | Atualizado em: 04/05/2021

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Débora Garofalo (2ª da esq. para a dir.) e Fábio Machado (5º da esq. para a dir.)

No início deste mês de março, a professora Débora Denise Dias Garofalo, da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Almirante Ary Parreiras e o professor Fábio Augusto Machado, da EMEF Marili Dias, participaram da SXSWedu (South by Southwest Edu), um dos maiores eventos de inovação e educação no mundo, realizado em Austin, no Texas (EUA).

A participação dos professores da Rede Municipal de Ensino foi efetivada por meio de um convite realizado pela Revista Nova Escola e pela Fundação Lemann. Juntos com mais 9 professores de diferentes regiões do Brasil, eles tiveram a oportunidade de compartilhar experiências com um grupo de educadores norte-americanos que também foram especialmente convidados pela organização do evento, de acompanhar palestras e de participar de workshops.

A seguir, os professores compartilham as experiências vividas nesse evento:

“Foram 5 dias de estudos intensos, com muito aprendizados e reflexões. Tivemos a oportunidade de participar de 23 palestras e também de Feira de Tecnologias e Playground – espaço destinado à oficina de tecnologias. Pudemos verificar que os problemas de educação nos Estados Unidos são parecidos com os nossos aqui no Brasil. Temos muitos pontos em comum e, entre as soluções apontadas para uma educação de qualidade e com equidade, estão: o diálogo, gestão participativa, empoderamento de professores e alunos, uso das tecnologias em situações reais de aprendizagem, inovação, transformação da educação através da sala de aula, protagonismo juvenil, pedagogia de projetos, dar voz aos alunos, manter conexão com os pais, entre outros.

Seguem os destaques dessas experiências:


“We got it from here… Thank you for your service” – Chris Emdim

A palestra de abertura da SXSWedu de 2017 não poderia ter sido mais impactante! O Dr. Christopher Emdim, com um estilo muito dinâmico e envolvente, começou sensibilizando a plateia sobre a necessidade de pensarmos no respeito e na valorização da diversidade nas escolas (Fabio destaca que a questão da fragmentação de cunho racial nos EUA é mais explícita do que no Brasil, que também é forte, mas um pouco mais velada) na busca das soluções aos principais desafios educacionais. Todas as escolas, quando expostas à diversidade, melhoram significativamente o aprendizado do aluno. É preciso ter bem claro em nossas práticas pedagógicas qual é o verdadeiro propósito da educação. Defendendo uma educação emancipadora, o Dr. Emdim reprisou a ideia, cada vez mais usual, de que os modelos educacionais que adotamos talvez atendessem aos interesses de sua época, mas não atendem mais as necessidades atuais.

O Dr. Emdim aponta que os sistemas de ensino não consideram a cultura dos jovens e seus conhecimentos prévios, especialmente quando impõem modelos padronizados de avaliação. Os grupos de rap, por exemplo, (Emdim defende a adoção do hip-hop nas escolas) são muito mais capazes de estabelecer um canal de diálogo e compreensão com os jovens do que os atuais sistemas de ensino. Daí o nome de sua palestra “We got it from here… Thank you for your service”.

Além disso, Chris aponta que muitos educadores são “amigos/inimigos” da educação, grupo que, apesar das boas intenções, apresentam práticas ruins e tradicionais. Alguns exemplos de práticas destes “amigos/inimigos”:

  • A replicação do discurso “Façamos a América grande novamente”, o típico discurso demagógico e vazio, destituído de sentido.
  • A insistência do uso de obras desatualizadas ou descontextualizadas, (ele citou a obra do Dr. Seuss, ainda muito celebrado na educação e na mídia apesar de alguns de seus trabalhos serem nitidamente racistas).
  • A ocultação da “realidade educacional”, ainda muito desigual e excludente.


TECNOLOGIA

Débora destaca que Chris defende a tese de que não precisamos de alto investimento em tecnologia. “A prioridade deveria ser escutar nossos alunos. Tomamos decisões levando em conta somente as nossas ideias e valores. Os alunos deveriam ter um papel mais ativo nas decisões. A própria adoção do uso da tecnologia tem sido usada como ‘fim em si mesmo’. O uso da tecnologia não tem representado, necessariamente, uma inovação educacional”, ressaltou Chris.

DISCURSO/PRÁTICA

“A academia apresenta concepções pedagógicas aparentemente inovadoras, mas na prática mantemos uma educação tradicional. Dizemos que os alunos são os nossos professores, mas não os escutamos de fato (mas exigimos que nos ouçam)”. Chris destaca assim o distanciamento existente entre as concepções acadêmicas e as dos alunos, pois estas são tão importantes quanto aquelas. “Aliás, é preciso que os alunos saibam disso”. Chris defende que os conhecimentos acadêmicos podem ser expressos de outras maneiras, digamos não “acadêmicas”. “Eles precisam se ver no processo educativo para que a aprendizagem tenha mais sentido para eles. É preciso ter mais humildade para escutá-los. Precisamos olhar menos para as estatísticas e mais para as almas dos alunos!”, disse Chris.

“Mas se intelectualmente sabemos que os alunos precisam ter mais voz e vez, porque não viabilizamos isso? A explicação é psicológica: Como professores somos menosprezados, então menosprezamos os nossos alunos”, explicou. A superação desse círculo vicioso passa necessariamente pelo fomento do que Chris chama de um “consórcio de amigos” engajados na mudança. “Ninguém vai mudar a educação sozinho. Não se trata de ser o líder de ninguém, senão de si mesmo. A motivação é um movimento interno”, finalizou.

Investing in Teachers as Innovators – Elliott Witney, Juan Cabrera, Molly McMahon, Valerie Lewis.

A palestra teve início com uma frase de impacto. “Não temos todas as respostas, mas estamos aqui para construir juntos”. A palestra contou com diferentes atores da educação (gestor e professores) indagando o papel da Inovação e mostrando dados estatísticos do Texas, onde entre 5 crianças, somente uma consegue cursar o nível superior e, dentro desta perspectiva:

O gestor Cabrera tem uma postura muito conservadora em sua fala e afirma que coloca pressão em seus professores, onde se faz necessário trabalhar com estrutura existente e com a cultura local e engajar para conseguir inovação, entendendo que neste processo os educadores são facilitadores.

Valerie Lewis, uma professora brilhante, enfatiza que em seu trabalho no chão da escola devemos estar preparados para trabalhar com inovação, que pode estar em pequenas ações. Ela possui um projeto significativo, envolvendo as áreas do conhecimento, com competições, dando protagonismo aos alunos e afirmando que, o que as crianças criam, é a Inovação. Ainda deixou um recado aos gestores: “não tirem o poder dos seus professores. Para que os professores possam inovar é preciso apoiá-los”.

Witney coloca uma frase marcante: “inovação não é sexy, não necessariamente brilha, ela empodera para transformar as pessoas”. Ele reforça a necessidade de que temos que desenhar a educação para cada aluno, não podemos personalizar as experiências sem empoderar os professores.

Débora destaca que o caminho da inovação e da transformação ocorre dentro da sala de aula por professores e alunos no centro da aprendizagem.

Behind Happy Faces

Essa palestra, conduzida por Ross Szabo, discutiu a questão da saúde mental dos nossos estudantes. Para sensibilizar a plateia sobre o problema, Szabo trouxe dados de uma grande pesquisa conduzida pela universidade da Califórnia (UCLA) sobre o problema. Os dados impressionam:

– 25% de todos os estudantes tem algum tipo de problema mental não descoberto;

– 66% dos alunos com problemas de saúde mental não procuram ajuda;

– 89% dos estudantes dormem mal.

Os dados permitem identificar que o assunto da saúde mental ainda é um tabu em nossas escolas. Szabo defende que o assunto precisa ser discutido e problematizado e não mais ignorado. “É preciso romper com os estigmas sociais que tratam aqueles que apresentam doenças mentais (como ansiedade, depressão, transtorno bipolar, etc) como se fossem fracos. Vivemos em uma sociedade muito “ocupada”, apressada, acelerada, sobrecarregada. Parece que vivemos em uma espécie de competição para ver quem é mais estressado, ansioso, para ver quem dorme menos… Isso é muito grave e preocupante, pois afeta não somente o aprendizado dos nossos alunos, como também distorce a noção que temos a respeito de nós mesmos”, diz Szabo. Ele aponta que pessoas quebradas e machucadas também machucam as outras. Assim, o assunto da saúde mental não pode ser negligenciado. Temos educação física desde as séries iniciais, então porque não desenvolver um programa de educação mental na grade curricular? O próprio programa “Behind Happy Faces” é uma resposta a essa necessidade. É preciso cuidar da mente dos nossos alunos! Mas como? O que podemos fazer como professores?

É preciso saber observar os sinais, infelizmente silencioso na maioria das vezes, mas que permitem identificar possíveis desordens psíquicas. Isso deve fazer parte da formação dos professores. Ross Szabo afirma, no entanto, que os tabus que impedem de falarmos sobre as doenças psíquicas de nossas crianças podem ser facilmente quebrados quando temos a coragem de compartilhar as nossas próprias histórias. O próprio Ross compartilhou as suas experiências com transtorno bipolar. Segundo ele, essa simples ação pode transformar muitas vidas. Isso encoraja os alunos a compartilharem as suas histórias também. Essa troca permite caminharmos em uma jornada de autoconhecimento, desenvolvendo a nossa inteligência intrapessoal e contribuindo para que nossos alunos se tornem autores de suas próprias histórias.

Computer Sciences Best Practices

Nesta palestra foram discutidas as dificuldades de professores ao trabalhar com programação, o papel dela nas escolas através das resoluções de problemas e a importância dos games como forma de integrar aprendizagens e alunos.

A palestra foi conduzida por Linda, Fujimoto e Fletcher, que enfatizaram a dificuldade do ensino de programação e da dificuldade de professores estarem conectados com o ensino de programação nos EUA no Ensino Médio. Ressaltaram a necessidade de reverter esta situação e levar pessoas que queiram trabalhar com programação às escolas.

Fijimoto coloca que programar no futuro será algo obsoleto e faz uma analogia com a máquina de escrever (datilografia). “Ao invés de programar, é necessário treinar tecnologias, ensinar as máquinas a aprender. Este pensamento sistêmico já se iniciou e o nosso papel (professores) é integrar máquinas e pessoas a utilizarem tecnologias. A tecnologia é para todos e uma grande propulsora à resolução de problemas. Ainda nos dias de hoje vemos os professores travarem por não conhecer tecnologias. É necessário nos aprofundar no pensamento sistêmico, procurar soluções de baixo custo para resolver problemas com tecnologias”, explicou.

Os games são um exemplo de um caminho clássico para interagir alunos com foco na solução de problemas. “Temos que rever o projeto pedagógico incorporando a programação, entendendo que o aluno sempre irá saber mais que você e que o papel do professor é ser mentor dele. É necessário desenvolver a cultura do feedback para uma disciplina tão nova, criando uma cultura do respeito onde todos possam aprender, com confiança, rigor e respeito. Sou defensor de que com baixos recursos podemos fazer grandes coisas”, disse Fijimoto.

Millier coloca a discussão sobre a interação entre programação, máquinas e pessoas ainda enfrentar muitos obstáculos no ensino de Ciências da Computação. Ela traz, em sua fala, a importância de não ter como ensinar a tecnologia, mas o jeito de pensar com as tecnologias. “A tecnologia é parte do processo de aprendizagem, a escola não pode dissociar a tecnologia do currículo e ela não significa somente programar. É também criatividade, e impacta outras áreas do conhecimento”, observou.

Para Fletcher, o pensamento computacional não pode estar limitado à sala de aula. A tecnologia não pode ser vista e encarada como algo separado da escola, tem de estar incorporada ao cotidiano e não ficar presa somente ao currículo. A tecnologia transforma o currículo.

Beyond Aid: Solutions for Education Refugee Youth

O bate-papo foi conduzido por 4 mulheres engajadas no desenvolvimento de uma educação humanizadora e inclusiva para refugiados. De Jane Meseck da Microsoft à Professora e cientista política Jodi Nelson, e de Leila Toplic (ex-refugiada Bósnia e líder da NetHope) à Melissa Ingber do Instituto Aspen, todas as palestrantes concordam que a educação para refugiados deve focar nas suas habilidades emocionais e não apenas nos indicadores de aprendizagem genéricos que também são adotados aos demais estudantes. É preciso redefinir os objetivos, como tratar os problemas associados à exclusão social e aos traumas dos conflitos que os trouxeram ao país. Para isso, as quatro palestrantes, todas elas envolvidas de alguma maneira aos setores de tecnologia e a associadas a diferentes Ongs, defendem que é preciso integrar mais pesquisas que sejam capazes de avaliar as verdadeiras necessidades educacionais dos estudantes refugiados.

Em pequenos vídeos apresentados durante a conversa (na qual vimos vários refugiados interagindo e demonstrando a saudade de seu país, família, amigos) a integração desses alunos (especialmente os Sírios, no caso estadunidense) com os alunos do país que os acolheu pode ser de grande enriquecimento cultural e aprendizado para todos. Dessa forma, o contexto cultural de origem desses alunos deve não apenas ser valorizado para eles próprios, mas para todos os demais. Essa é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de uma maior tolerância, respeito e inclusão social.

Remaking Learning in Mr. Rogers New Neighborhood

Imagine o seguinte: como seria uma rede inteira, sempre se reinventando e que compartilha uma educação voltada para a cultura maker, protagonismo estudantil, pedagogia de projetos e aprendizagem significativa? Lá em Pittsburgh é assim! Esse painel inspirador, conduzido por Jane Werner, Illah Nourbakhsh, Greg Behr e Zainab Adisa, nos mostra como uma rede inteira é transformada quando a concepção de que o ensino deve ser holístico é compartilhada por todos.

Logo no início da conversa, ficou claro que a ideia central foi a de que “a educação não é somente um projeto de aprendizado, mas um aprendizado de si mesmo”. Ou seja, a educação deve viabilizar a construção da identidade! Sendo assim, o centro da nossa prática educativa deve ser a harmonização entre o que o aluno quer e o que o aluno precisa. Conversando com os meus amigos presentes na SXSWedu, sobretudo com o diretor Max Ribeiro, a conclusão a que chegamos é a de que os modelos educacionais mais bem sucedidos são aqueles em que as crianças colocam “as mãos na massa”. E se a tecnologia, ao invés de ser apenas algo a ser usados por elas, fosse algo criado por elas? Na palestra, aprendemos que “a tecnologia não pode ser visto como neutra. Quando você inventa algo, você muda a sociedade e isso é uma intervenção política!”. O aluno pode ser o criador da tecnologia e não apenas o usuário final. Essa concepção tira o educando da passividade. O uso da tecnologia, mais do que as respostas, deve estimular os alunos a fazerem perguntas.

No painel, vimos que os pais ficam absolutamente encantados quando veem o que os seus filhos são capazes de fazer e acabam se envolvendo junto com eles. Cria-se uma comunidade “aprendente”. Aliás, o conceito de “comunidade que aprende junto” é muito forte no programa Remaking Learning. Com uma concepção parecida da que temos na rede municipal de São Paulo (como o programa “Territórios do saber”), a rede de Pittsburgh tem como base a chamada “Educação Integral”, com intercâmbio entre as escolas. A principal diferença de lá para a nossa rede aqui é que essa educação integral está materializada há muito tempo e já faz parte de uma cultura local mais enraizada. É uma política pública em exercício. Assistir a essa palestra significou a sedimentação e a certeza do que acredito ser o caminho que a educação deve seguir. Experiências que já acontecem aqui, mas ainda de maneira muito localizada (professor A ou B ou escola A ou B que acreditam na educação integral), materializado em toda uma rede!

A prática da pedagogia de projetos, que favoreça uma educação integral para a integralidade do sujeito, segue o seguinte ‘caminho’ para eles: eles começam com apenas um projeto e focam nele. Depois convidam outros professores a conhecerem a experiência para encorajá-los a adotar riscos que não fariam de outra maneira. A estratégia tem dado certo. A ideia é a seguinte: mostrar o ‘como fazer’ e demonstrar o resultado disso é muito mais eficaz do que dizer “faça isso ou faça aquilo”. A prática da educação integral não é apenas possível. Ela é necessária e ela existe!

The Big Apple’s Big Bet: Equity & Excellence 4 All

A ‘chanceler’ do departamento de educação da cidade de Nova York, Carmen Farina, e Ursulina Ramirez, gestora desta mesma rede, conduziram uma das mais impactantes apresentações de todo o evento. Compartilhando de um princípio geral que discutimos incessantemente com nossos parceiros Nova Escola e da Fundação Lemann, as palestrantes nos disseram logo no início que a qualidade da educação não pode estar vinculada ao local de nascimento de uma pessoa. Não importa o seu CEP, todo aluno pode ter sucesso em seu aprendizado. Com essa filosofia em mente, a chanceler contou para nós um pouco do que é preciso para garantir a tão sonhada “excelência com equidade”:

  • Muitos professores não sabem ensinar o seu aluno a ler de modo adequado, então eles entram em um programa que os capacite a fazer isso;
  • Altas expectativas: alfabetização um ano antes do “esperado”; professores mais rigorosos no acompanhamento do aprendizado dos seus alunos; cursos adicionais; mudança na forma da contratação de diretores e supervisores, etc.
  • Desenvolvendo relações de confiança: honrar os compromissos assumidos (fazer aquilo que se diz);
  • Aumento da exigência para ser professor (só vai te seguir quem confia em você);
  • Criação de escolas modelo (referência para outros professores e escolas de ‘como fazer’);
  • Promoção do intercâmbio de boas práticas entre as escolas da rede. Professores de destaque visitam professores de outras escolas;

Farina nos diz, porém, que a verdadeira mudança na educação deve ser aquela promovida na sala de aula. Com isso em mente, quando a rede adota um novo programa, a secretaria de educação recebe o feedback dos professores para dizer o que está e o que não está funcionando na sala de aula.

Outro aspecto muito importante e presente na rede de NYC é a participação dos pais. Reconhecendo a necessidade e ao mesmo tempo a dificuldade de engajá-los, os educadores da rede decidiram lhes oferecer aulas, como forma de envolvê-los ainda mais. Todas as terças-feiras é oferecida, dentro da grade, uma aula/programação com os pais. Mesmo quando ausentes, nesse mesmo horário os professores ligam para os pais para dar-lhes boas notícias, indicando os progressos dos seus filhos, por menores que sejam. Não dá mais para manter essa lógica da relação com as famílias somente quando há problemas. Além disso, é preciso compartilhar os desafios com as famílias. Sempre haverão pessoas com boas ideias.

Carmen Farina defende que devemos ser bem diretos na mensagem que queremos transmitir, sem rodeios. É preciso ser honesto, reconhecendo os valores das pessoas e os seus próprios. Isso te dá credibilidade. Não há melhor recurso para um líder do que ter pessoas que acreditam e que estejam dispostas a lutar com você.

Outro aspecto abordado na palestra foi a reprovação: “Não devemos julgar uma criança que não aprende se não a ensinarmos corretamente. Tem que haver uma vantagem muito clara para reprovar uma pessoa. E normalmente não há”. Encerro esse texto com algumas frases de Carmen Farina:

“A aplicação de recursos em educação não é caridade, mas investimento”.

“Existe toda uma rede de apoio na educação (professores, gestores, quadro de apoio, etc) que precisa ser valorizada e reconhecida”.

“É preciso valorizar mais as boas ideias do que as boas notas”.

“Se os alunos não falam, eles não aprendem”.

“É preciso que as crianças vivenciem outros espaços”.

Ideate and Create Towards a Better Tomorrow

Jéssica Mathews é uma empresária bem sucedida na área de tecnologia e desenvolveu um sistema de geração de energia renovável absolutamente revolucionário! A sua empresa, Uncharted Play, desenvolveu uma bola de futebol que na verdade é uma bateria. Quando colocada em ação (jogada pelas crianças), tem a sua carga abastecida. Para muitas comunidades de países subdesenvolvidos que ainda não tem energia elétrica, como acontece na Nigéria ou mesmo em algumas regiões do Brasil, o uso dessa bola representa não somente o lazer, mas a transição das trevas para a luz. Literalmente. Mas, claro, estávamos em um evento de educação. O que ela fazia lá afinal?

Mathews defendeu a tese de que todas as crianças devem ter o seu direito à aprendizagem assegurada. A ideia não é apenas levar a tecnologia que a sua empresa, a Uncharted Play, desenvolve para as crianças. As crianças precisam receber uma educação aprofundada no STEM (sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para que o seu potencial de criação de inovação seja multiplicado. Além disso, é preciso empoderar as meninas no uso de tecnologia! Eles (e elas) podem se tornar os criadores das tecnologias que suas comunidades precisam! Ela diz que “os problemas do mundo são muito complexos para uma só pessoa resolver, daí a necessidade de incluir o maior número de pessoas engajadas”. Quando a educação é contextualizada e voltada à resolução dos problemas locais, a criatividade dos estudantes é potencializada. Jéssica diz que “precisamos abraçar o nosso ser”. Mas “o como” fazer é ainda mais importante do que “o que” fazer! O caminho apresentado por Jéssica Mathews foi o seguinte:

1 – Inspirar: através da brincadeira. Mostrar que a ciência é algo palpável e além da sala de aula. Contextualizar;

2 – Ensinar: assegurar que as crianças tenham o conteúdo curricular aprofundado no STEM;

3 – Criar soluções para os problemas locais;

4 – Projetos de impacto em larga escala. Engajamento da comunidade.

A meta deste programa fantástico é alcançar um milhão de pessoas!

Closing Program

Brené Brow

Apostando na premissa de que a coragem não é algo inerente aos seres humanos, mas que é algo ‘ensinável’, Brené Brow, a primeira a falar na palestra de encerramento, discutiu a necessidade de saber falhar e como lidar com isso.

A principal lição é a de que a coragem está sempre está associada à vulnerabilidade. Não precisa ser corajoso quem não se sente vulnerável. Essa noção parte da seguinte ideia, já discutida na apresentação do Tim Ferris, aqui mesmo na SXSWedu: “a coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de seguir em frente apesar do medo”. Quando a vulnerabilidade não é enfrentada, você desenvolve o que Brené chama de “Shame”*. (Fabio destaca que: Em português, a tradução literal de Shame é ‘vergonha’, mas há um sentido mais amplo nos EUA. Transcende a ideia de timidez, embaraço. Está muito ligado a ideia de inferioridade que sentimos quando nos comparamos com os outros. Trata-se não somente de uma emoção, mas de uma concepção que se tem a respeito de si mesmo)

Após anos de estudo, Brené entendeu que o que mais nos faz sentir esta vergonha (imobilizadora, segundo ela) é a percepção da diferença de “poder” que se estabelece em nossas relações com os outros. Ela exemplifica essa percepção através de situações em sala de aula. É um ambiente onde o aluno se sente vulnerável e envergonhado e, por isso mesmo, um ambiente propício para lidar e superar isso.

Brené afirma que é importante saber diferenciar a culpa da vergonha. A culpa é o arrependimento por algo que se fez errado. A vergonha é pior: significa ‘ser o erro’. Segundo ela, a vergonha é um sentimento tão incapacitante que chega a ser muito pior do que a humilhação. Quando nos sentimos humilhados, sabemos que não merecemos aquilo. A vergonha é um sentimento que nos diz: eu mereço isso!

Analisando o impacto da vergonha no aprendizado é possível notar o quanto precisamos compreender a necessidade de trabalharmos a inteligência interpessoal e intrapessoal dos nossos alunos. É fundamental que eles tenham uma forte noção a respeito de si mesmos, reconhecendo as próprias potencialidades. Ela fala sobre a importância do desenvolvimento da empatia. A empatia tem o poder de derrubar os muros trazidos pela vulnerabilidade e pela culpa, para que estas não se transformem em vergonha. Defendo que o principal caminho pelo qual podemos lidar com a vergonha (shame) dos nossos alunos é a prática da pedagogia de projetos: ao compartilharmos os mesmos sonhos, nos colocamos em pé de igualdade em uma estrutura cooperativa (não competitiva), no qual o interesse de um é o interesse de todos e, por associação, o problema de um é o problema de todos!

No último dia visitamos uma escola norte-americana, a Live Oak Elementary School. Ficamos impressionados com a disposição e organização dos espaços, assim como a integração natural da tecnologia para aprendizagem.

Outro ponto foi perceber que o currículo é rígido e extremamente cobrado, porém existe uma grande liberdade do professor em aplicá-lo e também de organizar sua sala de aula, inclusive disponibilizando o mobiliário da maneira que achar adequado.

Tivemos a oportunidade de fazer muitas perguntas à Diretora e a duas professoras que nos acompanharam. Foi possível notar diferenças em muitos aspectos, como:

– Para ser diretora em uma escola nos EUA é necessário ter Mestrado e passar por exame nacional para estar habilitada ao cargo. O professor, além da avaliação, tem de passar por este exame nacional também. Tivemos a curiosidade de perguntar se os pais eram frequentes à escola e a Diretoria disse que não, mas que mantém um bom diálogo com eles e que se comunica com todos através da agenda dos filhos.

– Os intervalos são diferentes dos nossos. As crianças permanecem com as professoras e este é um momento de conversa sobre alimentação saudável.

– Os alunos se apropriam do espaço físico da escola, com muitos trabalhos desenvolvidos sobre valores, onde é possível visualizar o que todos estão trabalhando. Quando as crianças estão prestes a sair do nível elementar, elas deixam marcas na escola (pintura no teto).

– Os alunos mantêm um forte respeito ao professor, que se sente totalmente acolhido pela escola para realizar suas atividades, com uma sala dos professores confortável e que estimula a vontade de estar na escola.

São receitas poderosas do que podemos fazer aqui no Brasil para se alcançar sucesso, uma vez fazendo pequenas readequações ao espaço, podemos conseguir êxito na educação.

Na parte da feira e do Playground destacamos:

Feira e Playground

Ozobot – Essa tecnologia é muito legal. São robozinhos programáveis e que realizam games e atividades (circuitos) em papel. www.ozobot.com

Chick Teach – É um programa de empoderamento de mulheres e jovens mulheres nas tecnologias, trabalhando mão na massa, através de experimentos.

A new interactive Educational Learnig Tool Companion – Através de programação com ursos de pelúcia, auxilia a aprendizagem e interação com crianças com necessidades especiais, disponíveis em tecnologia bluetooth, wireless e android.

Óculos de Realidade Aumentada 360º – É possível jogar com ele e também visitar museus como o do Louvre. Também é possível construir os seus próprios óculos. O Google disponibiliza o modelo gratuitamente.

Oracle Academy – Possui plataforma gratuita para professores e estudantes. Promove mundialmente o ensino da ciência da computação para impulsionar o conhecimento, a inovação e o desenvolvimento de habilidades, associando tecnologias.

Micro Bit – A proposta do pequeno aparelho é que ele seja usado para ensinar crianças e jovens estudantes a aprender os fundamentos da programação de forma simples e acessível.

Oficina de Circuito de Papel – De forma maker, explora o circuito de papel na criação de objetos com funcionalidade. No caso, foi criado um pequeno projetor.

Makey Makey – É uma plaquinha pequena com setas e duas bolas desenhadas. Ela é cheia de furos para conectar os fios. Depois, os objetos, que ganharão vida para interagir com o computador. Uma das bolas é a barra de espaço do teclado. A outra, o botão esquerdo do mouse. Por exemplo, é possível tocar um piano usando bananas.”

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