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Lembrar, educar, lutar: o Dia Internacional da Mulher para além das comemorações
Reflexões sobre o 8 de março
Publicado em: 08/03/2022 8h00 | Atualizado em: 07/03/2022No dia 08 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Comemorar? Sim. Comemorar é um verbo adequado, mas não é o único que deve ser conjugado neste dia.
Temos que comemorar porque hoje as mulheres podem estudar e trabalhar, inclusive em posições de liderança, dentro das escolas. Há registros de 1827 – que historicamente não é um tempo muito distante-, nos quais se discutia se as meninas poderiam ou deveriam estudar os mesmos assuntos que os meninos. Temos que comemorar porque hoje as mulheres estão nas mais diversas profissões e cargos – embora a representação feminina ainda não seja equânime, principalmente quando consideramos os trabalhos mais prestigiados socialmente.
Diante dessas diferenças, é preciso lutar. Temos que lutar pelos direitos das mulheres e lutar por suas vidas também. Comemoramos a presença feminina nos mais diversos espaços, mas ainda há uma grande sub-representação, por exemplo, na política. Os salários pagos às mulheres são também em média menores do que os dos homens. Os espaços de poder já não são mais exclusividade dos homens, mas ainda são prioritariamente masculinos. As vidas femininas também estão em risco. O Brasil amarga uma triste posição no ranking de violência contra as mulheres.
No bojo da discussão sobre carreiras e papéis, o verbo dividir precisa aparecer. Dividir as tarefas domésticas e não somente ajudar nas tarefas domésticas, com a compreensão que o nobre trabalho da casa – e não há aqui nenhuma ironia, considerando que a manutenção do nosso espaço de convivência e descanso é uma missão nobre e fundamental para a nossa saúde integral e da possibilidade do nosso desenvolvimento em todos os outros setores da vida – deve ser feito por todas, todes e todos os que usufruem do espaço da casa e não deve ser uma atribuição exclusiva das mulheres. Os chamados “terceiros turnos” do trabalho feminino, nos quais as mulheres têm que dar conta dos afazeres da casa e dos filhos, constituem-se ainda hoje um problema para a saúde e para o desenvolvimento profissional de todas.
Relembrar é também um verbo especial para o dia. Ligado com o verbo lutar, relembramos que há diferentes versões para a instituição do Dia Internacional da Mulher. Relembramos duas. Há a história do incêndio em Nova York, dia 25 de março de 1911, na Triangle Shirtwaist Company, que vitimou 146 pessoas – 125 mulheres e 21 homens. As causas desse incêndio foram, dentre outras, as péssimas instalações do local. Além disso, conta-se que alguns proprietários de fábricas da época, incluindo da Triangle, trancavam seus funcionários na fábrica durante o expediente. No momento desse incêndio, as portas estavam trancadas. Outra história nos remete à Rússia e ao ano de 1917, marcado pelo ciclo revolucionário que derrubou a monarquia czarista. Nesse clima de agitação revolucionária, as trabalhadoras mulheres do setor de tecelagem entraram em greve, no dia 08 de março, e reivindicaram o apoio dos operários do setor de metalurgia. Essa data entrou para a história como um grande feito de mulheres operárias e também como prenúncio da Revolução Bolchevique. O que essas histórias têm em comum? São todas histórias de mulheres trabalhadoras e que de algum modo sofreram injustiças. São histórias de vitórias, mas principalmente de sofrimento e luta, que nos remetem a uma tentativa de calar as mulheres de forma brutal e literalmente cabal, em um sistema econômico e social que não as defendeu e continua não nos protegendo. Dia 08 de março é dia de relembrar para lutar, proteger, cuidar e avançar.
Todos nós em variados graus precisamos de proteção e cuidado. Achar que essa proteção é dever ou necessidade de apenas alguns só sobrecarrega esses (que na maioria das vezes, são mulheres) e impede que outros possam usufruir do prazer de cuidar e de ser cuidado.
No Dia Internacional da Mulher é preciso justiçar, no sentido de exercitar uma justiça severa. Ainda temos diferença de salários para os mesmos cargos ou funções a depender se somos homens ou mulheres. No caso do feminicídio – o assassinato de mulheres por questões ligadas ao fato de serem mulheres –, é preciso que se faça justiça, mas não basta punir. É preciso contribuir para que os comportamentos machistas e fortemente patriarcais na nossa sociedade se alterem. É preciso educar nossas crianças.
Educar é o nosso campo. Educar é nossa missão aqui. Especificamente, o Núcleo de Gênero e Diversidade, da SME-SP, tem muito que falar no Dia Internacional da Mulher, porque falar de Gênero e Diversidade é falar sobre as mulheres, das mulheres e para as mulheres também. As questões de gênero abrangem o combate à violência de gênero, o incentivo ao desenvolvimento das mulheres em todas as áreas, a proteção da saúde física e mental das meninas, das moças, das estudantes adultas e das profissionais da educação, o rompimento de estereótipos, a luta por direitos das mulheres, a busca por condições equânimes para o desenvolvimento pessoal e profissional e o combate às expectativas negativas a respeito das capacidades e potencialidades femininas. A diversidade também diz respeito às mulheres, porque as mulheres entre si são também diversas. As questões étnico-raciais, as diferentes identidades, expressões e orientações sexuais, as possibilidades econômicas e financeiras influenciam fortemente para a determinação das condições de vida das mulheres.
E porque dia 8 de março é dia de educar, estamos juntes no apoio direto e na organização de proposições que contribuam com a educação de nossas alunas e alunos para uma convivência respeitosa, feliz e que compreenda nossas diferenças para o desenvolvimento de todes. Que no dia 8 de março, mais do que avançarmos na conjugação de muitos verbos, avancemos na efetivação dessas ações.
Núcleo de Gênero e Diversidade
Monica Abrantes Galindo – Assessoria
Fábio Hoffmann – Assessoria
Anna Luísa de Castro – Responsável Técnico-Pedagógica
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