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Mulheres na Educação: conheça a história de Leda Oliveira de Souza
A Auxiliar de Vida Escolar contribui para o desenvolvimento de estudantes com deficiência e Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) nas escolas municipais de São Paulo
Publicado em: 29/03/2021 16h44 | Atualizado em: 29/03/2021Com uma exclamação de emoção e uma respiração profunda, Leda Oliveira de Souza, Auxiliar de Vida Escolar (AVE), lembra da primeira estudante que atendeu quando chegou para trabalhar na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Zélia Gattai, em 2018. Vitória Gonçalves Fernandes de Souza, estava com 5 anos e tinha paralisia cerebral.
A AVE atendeu sete crianças nesses três anos de atuação na escola municipal, na zona oeste da capital paulista. Em sua trajetória, ela também apoiou estudantes com Autismo, Síndrome de Down e paralisia cerebral e foi sempre na dedicação de ensinar que a profissional encontrou alegria.
“Fui para a escola cuidar da Vitória. Ela era uma criança que cativava qualquer pessoa. Me lembro, como se fosse hoje, quando a conheci”, enfatiza Leda. “Ela olhou para mim, foi como se já me conhecesse há anos, e se jogou nos meus braços. Ela não andava. Passei a conhecer a história dela”. A partir deste momento, o grande desafio de Leda foi contribuir para o desenvolvimento motor de Vitória e auxiliá-la a se locomover com independência.
Além do estímulo para a locomoção, a Auxiliar de Vida Escolar contribuiu para o avanço de Vitória relacionado às questões de alimentação, higiene e uso do banheiro. O trabalho também era realizado em parceria com a professora Adriana Damasceno. Leda sempre estava junto com Vitória em suas atividades.
Contribuir para que Vitória andasse com independência foi o ponto alto de sua carreira, pois não há nada mais gratificante do que trabalhar para o desenvolvimento de uma criança com paralisia cerebral. “Quando comecei a ser Auxiliar de Vida Escolar, achei que eu iria ensinar as crianças a desenvolverem algo. Porém, fui surpreendida porque são eles que me ensinam todos os dias. Todos os dias em que estava na escola, aprendia algo diferente com as crianças. Sou apaixonada por cada um deles”.
Trabalho diário de persistência
A coordenadora pedagógica Silvia Santos Gomes e Leda traçaram estratégias para o desenvolvimento de Vitória. A AVE começou a promover ações de rotina que estimulassem o desenvolvimento motor da estudante. Apoiá-la e incentivá-la a subir e descer escadas, dar assistência nos momentos de brincadeiras no parque, colaborar em seu deslocamento no refeitório durante os momentos de alimentação.
Diariamente, com afinco e perseverança em obter resultados positivos, Leda promoveu essas e outras atividades. No início, Vitória andava um ou dois degraus e parava. “Eu trabalhava isso no dia a dia”, afirma Leda.
Passo a passo
Leda usou algumas estratégias para estimular o desenvolvimento de Vitória. Inicialmente, colocava a estudante sobre os seus próprios pés, para que ela andasse. “Ela pisava sobre os meus pés e fui ensinando passo a passo”. Após perceber que ela adquiriu mais equilíbrio, a AVE começou a ficar em frente a Vitória e dar a mão a ela para que fosse ao seu encontro.
A cada dia, Vitória sentiu mais confiança na profissional e em si mesma. Pôde perceber que não estava sozinha. Para além do trabalho de desenvolvimento motor, Leda acredita ter sido muito importante para Vitória “aprender a confiar nela mesmo”. Ao dar seus passinhos, Vitória ria e dava gargalhadas com sua conquista. A coordenadora Silvia lembra destes momentos: “Nessa hora, ela ria muito. Dava gargalhadas. Era muito legal. Ela soltava a mão, dava uns quatro passinhos e começava a rir”.
Ao final do processo, foi possível perceber as conquistas de Vitória. Ela subia e descia os degraus da escola com autonomia dentro de suas possibilidades, sempre acompanhada de um adulto. Nos momentos de refeições, caminhava até a mesa, puxava a sua cadeirinha para sentar-se à sua maneira. “Ela criou uma autonomia que eu espero que leve para vida”, disse Leda. “Isso para mim foi uma história que ficou como uma lição de vida”.
A Auxiliar de Vida Escolar (AVE)
A Rede Municipal de Ensino de São Paulo possui 1.128 Auxiliares de Vida Escolar. Elas atendem 5.039 estudantes com deficiência, em 887 nas escolas municipais. Uma AVE tem inúmeras atribuições em sua rotina de trabalho. Entre elas, estão auxiliar na locomoção dos educandos nos diferentes ambientes onde se realizam as atividades; auxiliar nos momentos de higiene, troca de vestuário e/ou fraldas, higiene bucal; acompanhar e auxiliar os estudantes no horário das refeições; auxiliar e acompanhar os estudantes que não possuem autonomia para que se organizem e participem efetivamente das atividades educacionais com o seu grupo.
Para Cristhiane de Souza, Diretora da Divisão de Educação Especial (DIEE), da Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo, “O trabalho das AVEs nas unidades educacionais municipais é fundamental, pois permite que estudantes com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento, que não possuem autonomia nas atividades de alimentação, higiene e locomoção, tenham esse suporte profissional e possam participar de todas as atividades educacionais”.
Projeto Rede
O serviço de apoio prestado pelas AVEs nas Unidades Educacionais faz parte do Projeto Rede, que existe desde 2010, por meio do termo de colaboração entre a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). O Projeto visa oferecer aos estudantes com deficiência e Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) apoio intensivo para aqueles que não apresentam autonomia para a locomoção, alimentação e higiene; bem como suportes técnicos necessários para que possam se organizar e participar efetivamente das atividades desenvolvidas pela Unidade Educacional, integrados ao seu grupo/classe.
Com uniforme da escola e mochila nas costas
Em 2020, entre os meses de outubro e novembro, devido a pandemia decorrente da COVID-19, as Auxiliares de Vida Escolar realizaram mais de 3 mil visitas domiciliares aos estudantes atendidos pelo projeto Rede. Além disso, as profissionais atenderam às crianças em situação de vulnerabilidade social para oferecer suporte e manter o vínculo fortalecido entre estudante-família e a comunidade escolar.
“A gente já estava há meses sem ver as crianças. No período de aulas remotas, eu sempre tive muito contato com as famílias por telefone, chamada de vídeo e mensagens”, contou. Fazer as visitas presenciais para Leda foi “excelente”, pois era uma oportunidade de ver as crianças novamente.
A visita que Leda realizou, em 2020, na casa do estudante Anderson Fernando Salu foi muito gratificante para ela. Ele tem Síndrome de Down e, na ocasião, estava com 5 anos. “Quando eu cheguei lá, ele estava com o uniforme da escola e mochila nas costas”.
O estudante que estava em processo de desenvolvimento da fala, a sua maneira, apresentou seu quarto para Leda e a convidou para sentar no tapete da sala. Mostrou as atividades de recorte que estava fazendo com a família. “Para mim a história do Anderson foi muito além do que eu esperava. Quando me despedi, ele ficou chorando”.
Leda considerou esse momento muito triste porque sentiu que o menino queria ir junto, achando que ela o tivesse visitado para levá-lo à escola. Ela acredita que a visita domiciliar foi muito importante. Depois, a mãe de Anderson fez uma vídeo-chamada agradecendo. A família fez o possível para acompanhar as aulas remotas e Leda sempre esteve próxima mantendo contato por meio de ligação.
A Dra. Yumi Kaneko, Diretora Técnica do Projeto Rede, pela SPDM, percebe o relato da visita realizada na casa de Anderson como “A maior demonstração da importância da escola na vida deste estudante e que a AVE representa a extensão da escola para ele. Ficamos muito emocionados em perceber que nós podemos ser uma das pontes que une o aluno com a escola e é o que nos motiva a nos reinventarmos e aprimorar o nosso serviço. O objetivo do nosso trabalho é sempre agregar valores para a comunidade escolar”.
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