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Filme produzido por crianças da EMEI Borba Gato é premiado e exibido em festival

Obra foi resultado do projeto ‘Fazendo Cinema em Casa’ feito a distância em parceria com a Associação Cultural Kinoforum 

Publicado em: 18/04/2022 15h55 | Atualizado em: 09/09/2022
Fotografia de uma criança em pé segurando uma bengala e outra sentada em um banco com as pernas cruzadas. A imagem está dentro de uma moldura de filme.

A Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Borba Gato, localizada na região do Largo 13 de Maio, zona Sul da capital paulista, desenvolveu o projeto “Fazendo Cinema em Casa” em parceria com a Associação Cultural Kinoforum. A oficina teve como produto final a realização de um filme curta-metragem de 20 minutos com os temas “Viajando de foguete para lua”, “Comédias de Charles Chaplin”, “Crie seu próprio monstro” e “Vivências e brincadeiras na pandemia”. 

O projeto foi premiado no 5º Prêmio Territórios, do Instituto Tomie Ohtake. Em 2021, foi a primeira vez que o Prêmio teve abrangência nacional. Dos dez projetos premiados nesta edição, a EMEI Borba Gato foi a única vencedora de São Paulo. O  filme foi exibido no 31º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.  

Mosaico com seis fotografias de crianças fantasiadas e se maquiando. As imagens estão dentro de uma moldura de filme.

Crianças da EMEI Borga Gato usaram a criatividade na criação de suas fantasias para o curta-metragem.

A partir de 2020, o contexto da pandemia de Covid-19 trouxe novos desafios ao cotidiano escolar. Nesse cenário de adaptações e inovações, a escola recebeu um convite da Kinoforum para participar de oficinas de curta-metragem em casa. As atividades foram realizadas de forma virtual durante uma semana com as crianças e famílias da EMEI.   

A coordenadora pedagógica à época, Rose de Castro Barros, lembra que estavam vivendo os primeiros meses de pandemia e, em meio as adaptações, a chegada da oficina “Fazendo Cinema em Casa” trouxe muitos ganhos pedagógicos com o uso de novas linguagens, além de um estreitamento de vínculo afetivo com os participantes. 

Mosaico com seis fotografias de crianças fantasiadas, com câmera na mão e com materiais como papeis coloridos entre outros. As imagens estão dentro de uma moldura de filme.

Estudantes soltaram a imaginação para a produção audiovisual.

“O projeto de cinema agregou em uma prática que nós já estávamos descobrindo juntos – crianças, famílias, professoras e coordenação – que era a comunicação online por meio de aplicativos e com o uso de tecnologias.  Participar do projeto foi muito bacana, fez uma movimentação da escola com as professoras e as crianças”, disse. 

Segundo ela, a participação também contribuiu para reflexão sobre a prática escolar e se “estar perto da criança seria, necessariamente, estar perto de forma física”. E também por conta da oficina puderam estar perto das crianças, mesmo naquele momento delicado. 

Com as crianças distantes fisicamente da escola, o uso prolongado das telas foi outra preocupação das professoras e coordenação pedagógica, porém ao participar das atividades de cinema os estudantes usaram o celular com um fim pedagógico, e “as crianças foram muito além do que ficar jogando ou assistindo a vídeos”.

Desafio de trabalhar a distância

A oficina foi produzida pelo cineasta Christian Saghaard e a artista e educadora Fabi Sampaio. Para ele, que já desenvolvia, antes da pandemia, esse tipo de ação presencialmente, o desafio foi descobrir como criar uma estrutura pedagógica e de produção para realizar oficinas audiovisuais online para crianças. Então surgiu a ideia de desenvolver o projeto “Fazendo Cinema em Casa”. 

Christian conta que durante a oficina as crianças tiveram contato com a história do cinema, assistiram algumas produções e comentaram a respeito. O contato com  a linguagem visual oportunizou aos estudantes fazerem gravação de imagem com a família usando o celular, construir curta-metragem e desenvolver seu próprio vídeo. A Kinoforum também enviou um kit de materiais com pesquisas para construção de figurinos, materiais para criação de objetos de cena e maquiagens.  

Arte com mosaico de três fotografias em preto e branco com as crianças caracterizadas de Charles Chaplin. As imagens estão em uma moldura de filme.

Versões de Chaplin pelas crianças da EMEI Borba Gato.

“Ter contato com a linguagem audiovisual permite um espaço para que a criança possa se expressar, dizer o que está sentindo, mostrar suas ideias, além de poder trabalhar coletivamente com outras crianças e com a própria família”, comentou. 

“As crianças pequenas têm contato desde que nascem com o audiovisual. O que a gente propõe é que ela entenda a história do audiovisual, de onde surgiu, entenda quais são as possibilidades nesse universo. As crianças,  muitas vezes, são acostumadas a assistir séries de TV, programas de televisão, mas trazemos outros filmes com diferentes linguagens. E, além disso, discutimos essas opções para que as crianças possam ter mais possibilidades na hora de gravar os vídeos e de se expressar”, acrescenta o cineasta. 

Dessa forma, a criança começa a compreender que os vídeos podem ter “magia”, mas também tem a questão da manipulação. “Vamos abrindo terreno para que a criança também tenha um olhar mais crítico em relação ao que ela assiste, e, inclusive, no sentido de perceber que há Fake News nos dias de hoje”, conclui. 

“Foi um momento muito mágico para nossa escola”

Assim se referiu a coordenadora pedagógica, Rose, ao falar sobre o envolvimento das crianças na oficina de cinema. “Foi muito empolgante. As crianças adoraram se ver no vídeo, produzir junto com a família”, recorda. Para os pequenos foi “muito natural e espontâneo” trabalhar desta forma e eles levaram “muito a sério a brincadeira de fazer cinema”. As famílias também tiveram a oportunidade de fazer junto com as crianças uma atividade criativa que fizesse parte do contexto escolar. A coordenadora ainda lembra que as famílias foram muito participativas e entregavam além do que era solicitado, tal foi o envolvimento e dedicação ao projeto.

Trabalho inclusivo

Um exemplo do envolvimento das crianças e familiares, foi a participação do Luís Gustavo Correia Porcino, 5 anos à época do projeto, e sua mãe, Simônica Vanderley Correia. “O Luís Gustavo é uma criança que gosta de participar, estar na ação e pôr a mão na massa”, afirma Simônica. Para ela, o projeto “foi mais um esforço para ele desabrochar, criar e  ter uma oportunidade”. Luiz Gustavo tem paralisia cerebral leve à direita. 

“Cada atividade que ele faz, cada atividade que ele realiza e consegue, pra mim é uma vitória muito grande. Me orgulho bastante da criança que ele é”, disse Simônica, que considera importante incentivar e mostrar que toda criança é capaz independente de qualquer dificuldade.  

Imagem com três fotografias de um menino fantasiado de Charles Chaplin.

Luís Gustavo caracterizado de Charles Chaplin.

Simônia também considerou importante participar da ação porque foi uma “nova experiência” para o filho. Ela compartilhou que ele se sentiu feliz se vendo dentro do filme, pois “foi um privilégio muito grande ser ver fazendo coisas que antes não se via”. A mãe também mostrou sua preocupação com o uso do celular e disse que era o recurso que tinham naquele momento da pandemia. Porém, para ela o celular foi utilizado de forma positiva com o projeto, foi um dos recursos que os ajudou bastante, foi “pelo celular que a gente se comunicou e fazia essa troca”. 

Juntos, mãe e filho, se divertiram e aprenderam fazendo cinema em casa. Pesquisaram diversas ideias para se inspirar, usaram a criatividade, desenharam estrelas, cortaram e colaram materiais, confeccionaram foguete, capacete, criaram cenários com o planeta terra e muito mais. Quando a mãe dava alguma sugestão que ele não gostava, dizia: “Deixa eu fazer do meu jeito”. Ela completava: “Então faça do seu jeito”. 

Prêmio em dinheiro

A EMEI Borba Gato recebeu como parte das ações de premiação no  5º Prêmio Territórios, do Instituto Tomie Ohtake, o valor de R$5 mil para dar continuidade ao projeto e também uma bolsa de estudos de 100%  em um curso de graduação na Universidade Estácio de Sá. A escola ofereceu a bolsa para Simônica, que fez vestibular, passou e hoje está cursando o 1º Semestre de Fisioterapia. 

A produção final com a participação das crianças e do Luís Gustavo que foi exibida no 31º Festival Internacional de Curtas-Metragens você pode assistir abaixo. Dá play e vem curtir essa sessão do curta-metragem “Fazendo Cinema em Casa”.

 

Veja o minidocumentário feito pelo Instituto Tomie Ohtake sobre a EMEI Borba Gato e o “Fazendo Cinema em Casa”:

 

 

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