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Diretor de Escola investe na cultura de paz
Projeto para retirada de grades é pautado na Educação em Direitos Humanos e já refletiu em melhorias no ambiente escolar
Publicado em: 12/11/2019 18h48 | Atualizado em: 06/08/2021
Diretor de Escola de Ensino Fundamental da zona oeste de São Paulo estimula a reflexão sobre a existência de grades no ambiente escolar e ganha Prêmio de Educação em Direitos Humanos e Cidadania. Processo de discussão e retirada das grades iniciou em 2017, tem envolvido toda a comunidade escolar e já refletiu na melhoria da circulação dos estudantes e em um ambiente mais agradável e humanizado. Perspectiva é que este movimento ocorra até 2021.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Brasil – Japão está localizada no bairro Jardim Sarah, no distrito Rio Pequeno. Grande parte dos estudantes mora em situação de vulnerabilidade em comunidades que ficam no entorno da unidade.
Rafael Ferreira da Silva tornou-se diretor da escola em 2017. Ele possui formação em História, Mestrado em Educação e quando foi chamado para assumir seu cargo de Diretor de Escola tinha interesse em escolher esta EMEF. “Estive aqui como professor e as grades já me incomodavam. Quando trabalhei na coordenação do Núcleo Étnico Racial da Secretaria Municipal de Educação, entre os anos de 2013 e 2016, fazíamos formações nas unidades escolares e esta recebeu atendimento em quatro momentos. Uma das coisas sobre a qual todos os étnico-educadores e formadores que atuaram aqui ficaram impressionados era a quantidade de grades e o estado de conservação da unidade”, ressalta o gestor.
Quando Rafael chegou logo iniciou um grande debate sobre a presença das grades e portões no ambiente educacional. “Tanto a escola como o bairro onde a escola se encontra sofrem dos estereótipos de “perigosos” e “violentos” e isso era reforçado na escola”, lamenta Rafael.
Assim, foi criado um projeto que consiste na retirada gradual de portas, portões, cadeados e grades existentes no interior da EMEF com o objetivo de promover uma política pública de Educação em Direitos Humanos e formação da cultura de paz. Discussões foram organizadas e envolveram os estudantes, funcionários e familiares das crianças. Entre as instalações mais curiosas, ele cita as que existiam nos dois balcões onde são servidas as refeições pelas merendeiras. Em ambos havia apenas uma pequena abertura para a passagem dos pratos. Havia também grades na frente da maioria das portas, inclusive nos banheiros, cozinha, no guichê de atendimento interno da sala dos gestores e na escadaria entre os pavimentos. “Toda vez que um estudante queria ir ao banheiro ou se deslocar de um pavimento para o outro tinha que solicitar a abertura da grade”, lamenta.
No diagnóstico sobre o mapeamento das grades foi acordado que elas deveriam ser retiradas a partir de três critérios:
- Segurança – grade e portões que, em caso de incêndio, ofereciam risco para alunos, funcionários e professores, tendo em vista os protocolos do Corpo de Bombeiros e da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes);
- Funcionalidade – grades em desuso, desnecessárias ou feias no ponto de vista estético. Grades e portões que garantem a segurança interna e protegem o patrimônio escolar não serão retiradas;
- Simbolicamente negativas – grades nas portas do banheiro e nos guichês da cozinha.
A primeira etapa do projeto aconteceu de fevereiro a dezembro de 2017 e as primeiras retiradas foram: dos corredores, refeitório, cozinha, banheiros dos professores e alunos, portas da sala de informática e secretaria. A segunda etapa ocorreu durante 2018, com um novo diagnóstico, mapeamento e intervenção. Nela foi feita a retirada das grades que circundavam e limitava a movimentação dos estudantes do prédio anexo e no pátio externo.
A terceira etapa ainda está em curso e vai até dezembro 2019. Foi diagnosticada a necessidade de retirada das grades externas das salas de aula e dos professores. O diretor ressalta que o projeto tem potencial para se estender até 2020 ou 2021.
Após cada fase de retirada das grades, a escola promove a escuta dos alunos, funcionários e professores e muitos fatores positivos já foram citados, tais quais: uma escola mais acolhedora e humana; melhoria no contato das cozinheiras com os estudantes e a autonomia dos estudantes para o uso do banheiro. Além disso, as grades retiradas se converteram em verba adicional para a Associação de Pais e Mestres (APM) da unidade.
Toda a ação desenvolvida na escola está centrada em políticas públicas de educação em direitos humanos, pois promove e fortalece os pilares da democracia e da cidadania, além de se contrapor à premissa de que as grades internas e externas protegem as pessoas (alunos, professores e funcionários) e o patrimônio da escola.
O diretor aponta que o projeto aposta na autonomia e no protagonismo infanto-juvenil para a construção de um sistema pedagógico e educativo pautado no diálogo e no respeito às diferenças e à diversidade. “É um movimento contínuo de perseverança, de acreditar no corpo docente, discente e na comunidade”, enfatiza.
Em paralelo a todo esse processo, a escola tem investido em melhorias e cuidados que dão aos estudantes e professores uma melhor estrutura. “Estamos investindo na escola de maneira bastante acelerada. Já fizemos reformas de micro e macro escala. Reformas elétricas, hidráulicas e de alvenaria. Colocamos projetor na sala de leitura, informática e no pátio. Os banheiros dos estudantes ganharam espelhos, o refeitório ganhou toalhas de mesa e um filtro de água refrigerada. Tudo tem sido bem conservado pelos alunos e os índices de vandalismo das paredes e depredação estão muito baixos.”, comemora Rafael.
Grêmio Estudantil – Com a aposta na autonomia estudantil e no protagonismo, a escola conseguiu eleger um Grêmio que está atuando de forma bastante eficaz e que, desde setembro, já promoveu também muitas melhorias no ambiente escolar. Fazendo valer o próprio nome, Revolução Democrática e orientados pela Assistente de Direção, Mariana Lima, os estudantes criaram o Projeto Embelezamento e o prédio já ganhou pintura das portas das salas de aula, dos brinquedos do parque, dos mobiliários do pátio, dos muros internos e da quadra. Todas as melhorias foram feitas pelos 15 jovens que participam do Grêmio, estudantes voluntários e educadores da escola. Ainda em processo, eles estão estruturando uma horta vertical e pretendem continuar as pinturas na escola.
Clique que acessar o Blog do BJ e conhecer mais ações da EMEF Brasil – Japão.
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