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Mulheres na Educação: Veja como o teatro pode se tornar uma potência de educação
Para Carolina Mancini, o teatro somado à educação têm poder para transformar vidas
Publicado em: 17/03/2021 10h30 | Atualizado em: 19/03/2021A Rede Municipal de Ensino suporta mais de 1 milhão de estudantes dentro das suas 4 mil escolas. E dentro desses edifícios existem pessoas e histórias transformadoras de educadores e alunos que carregam uma responsabilidade e subjetividade valiosíssima. Sobretudo, neste mês de celebração das mulheres é muito importante para a SME valorizar o trabalho de muita dedicação delas que representam mais de 83% dos profissionais da rede, totalizando 67.361 mulheres.
Hoje vamos conhecer a Carolina da Silva Mota Mancini, Professora do Ensino Fundamental II e Médio (Arte) desde 2013. Para ela, a transformação é uma peça chave da educação pública para superar as dificuldades do nosso tempo.
“As situações de vulnerabilidade dos estudantes refletem diariamente na escola, isso altera comportamentos e torna o interesse pela aprendizagem mais difícil. É preciso ter uma postura de educador, que busca entender e se colocar, com empatia, na realidade do estudante, de modo que a aula seja significativa e dê bases de reflexão sobre a vida, o mundo, a sociedade, do mesmo modo que ele possa esperançar mudanças para si”
Nesses sete anos buscou alternativas para a adaptação da educação à realidade dos alunos. Quando começou na EMEF Artur Neiva, onde por 4 anos esteve à frente do projeto Teatro de Alternativas, que visa trabalhar práticas teatrais com os alunos para desenvolverem uma relação mais saudável de identificação com o corpo e o seu lugar na sociedade. Carol conta que houve casos em que alunos com dificuldades no desenvolvimento, após se iniciarem no projeto tiveram ganhos imateriais, tanto de desenvolvimento escolar quanto pessoal. O projeto de vivências teatrais que já impactou mais de 300 alunos, se dá por meio de exercícios de conhecimento do corpo e da mente. Nele é trabalhado habilidades como improvisação, reflexão, resolução de problemas e criatividade, por meio de jogos cênicos, musicais, cantigas de roda, leitura de poesia e criação de releitura de textos em cenas.
A professora conta que esse trabalho resulta no ganho de confiança e autonomia para os membros do projeto. E que alguns alunos chegaram a escolher o teatro como profissão e ainda buscam se profissionalizar, outros, “conseguiram vencer seus medos e projetar sonhos possíveis para si”.
A ideia no projeto de práticas teatrais desenvolvida por meio do Teatro de Alternativas não tem como finalidade criar atores, mas auxiliar os alunos em seu desenvolvimento pessoal, que naturalmente resultará em um ganho na qualidade da aprendizagem.
“A apresentação é uma consequência do trabalho desenvolvido, não o objetivo do projeto”
Após seus 4 anos na EMEF Artur Neiva, ela foi para a EMEF Brigadeiro Correia Melo, onde desenvolve atividades com o grêmio da escola. O teatro desempenha um papel central na sua formação como professora, onde se formou e trabalhou por dois anos antes de se enveredar na literatura. A educação já vem desde antes de se tornar professora, foi a partir do teatro que percebeu o potencial transformador do educador na vida do aluno. “Eu acredito em uma educação que é libertadora e transformadora. Para além de conteúdos necessários, acredito que capacitar o aluno para que se empodere, tome decisões a partir do que é justo, com escolhas críticas embasadas na vontade de mudar, podem não só mudar sua postura, como transformar sua realidade. É um trabalho de formiguinha, mas dentro do Grêmio esse aprendizado acelera, pois o educando vive na prática a importância do que aprende e de como age a partir de um compromisso real com seus colegas e com sua escola”.
Através do grêmio estudantil os alunos podem pedir por melhorias na escola e criar vínculos com o espaço. Eles demandam mudanças e também praticam, o resultado pode ser visto no dia a dia dos estudantes. Na EMEF o grêmio estudantil já deliberou sobre o orçamento para reformas em banheiros e revitalizaram a placa da escola. A professora Carol, orienta os alunos e decidiu abrir as portas para a comunidade escolar. Sem eleições, o grêmio conta com chapa única que garante a participação de quem realmente se interessa e se dispõe a participar.
A professora Carol conta que tanto a educação quanto o teatro têm poder de transformação a partir das suas práticas. Não é incomum que essas áreas conversem, no teatro, por exemplo, se você vai montar uma peça sobre a cidade de São Paulo, você vai estudar sobre a cidade, ler, fazer entrevistas, ver fotos e reportagens, além de olhar com atenção e sem julgamento para seus moradores e visitantes. E tudo isso vai aparecer na construção dessa peça e dessa encenação. Ela acrescenta, “você não guarda o conhecimento em uma caixinha pra usar em uma prova e nunca mais. Mas você vive o que aprende na prática”.
Esse mecanismo que pode ser empreendido pelo professor para trabalhar em sala de aula é uma das formas de trabalhar de modo significativo. Já o aluno aprende a fazer ligações de conteúdos e práticas, pois acionou no seu cérebro, essa forma de pensar.
Assista aqui a peça desenvolvida na EMEF Brigadeiro Correia Melo.
Essa peça foi resultado de apenas 10 aulas de preparação onde uma parte dos alunos são classificados como alunos com dificuldade de aprendizagem, de leitura e transtorno de déficit de atenção. “Foi muito gratificante ver onde eles chegaram”.
Os desafios impostos pela pandemia
Adaptar-se ao novo formato foi difícil, conta a professora, já que o educador é motivado pelas transformações e desenvolvimento de seus alunos, que com a pandemia ficaram mais distantes. Muitos alunos com dificuldade no acesso fizeram com que as escolas buscassem novos métodos para passar o conteúdo. Algumas escolas além dos métodos com Google Sala de Aula e o Trilhas de Aprendizagens impresso e distribuído nas escolas, foi necessário uma busca ativa por meio das redes sociais. Porém, só em outubro, com os projetos das aulas extracurriculares, foi possível reaproximar um pouco a escola da vida desses alunos, retomando o significado acolhedor e transformador da escola e do trabalho do educador.
Durante o período de pandemia infelizmente as práticas teatrais tiveram que ser interrompidas, mas que é cobrada pelos alunos que esperam ávidos pela oportunidade de trabalhar sua criatividade por meio do teatro. Para a professora ainda, a apresentação não é o fim, mas o resultado de todo o trabalho que as práticas teatrais propõem, mesmo que não houvesse apresentações os alunos teriam aprendizados para levar para a vida.
“São muitos os que me procuram nas redes sociais para contar como as aulas fizeram diferença nas suas escolhas de vida. O teatro também trouxe um processo de aceitação de orientação sexual, corpos diferentes dos padrões e até de experiências passadas, levando o aluno a empoderar-se e também a aprender a respeitar o lugar do outro e suas diferenças”, declara Carol.
O fruto de um trabalho que gerou alternativas
Gabriel Muniz, que foi aluno da professora Carol e integrou o Teatro de Alternativas, conta que foi em um passeio escolar, no ensino fundamental, assistindo a uma peça da Família Adams, que o deixou de “queixo caído”. A partir dali surgiu nele a vontade de entrar para o teatro.
Ele conta que participou do Teatro de Alternativas por um ano e meio e realizou três apresentações nesse período e recentemente completou um ano de curso na Companhia do Martelo, que devido a pandemia teve que adaptar as práticas ao remoto, focando na pesquisa e fazendo atuações por vídeo.
“Das apresentações na escola do Fundamental, eu tive sorte de fazer parte de um grupo de alunos/atores incríveis, sem a professora Carol nada daquilo seria possível, participei de 3 peças ao todo, foi a primeira vez que tive a sensação de estar do outro lado do teatro, é uma sensação que não tem preço”, ele explica.
Gabriel entende o trabalho da professora como essencial para seu reencontro com o teatro e sua escolha profissional. A arte realizada no teatro para ele “representa liberdade”, que só é possível ser refletida com a expressão do corpo, habilidades que foram desenvolvidas pela professora Carol durante o Teatro de Alternativas.
A educadora que Carol representa, torna possível outras realidades para seus alunos. Para ela, “o projeto é focado em trabalhar jogos teatrais que ajudam o aluno a se colocar em diferentes situações e experimentar fazeres artísticos fora do seu lugar comum. E é esse trabalho, mais do que ensaiar uma peça, que faz o aluno se empoderar e refletir.”
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