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Estudantes do CIEJA constroem novas formas de jogar Voleibol
Jovens, adultos e pessoas com deficiência participaram do projeto selecionado para concorrer ao Prêmio Educador Nota 10 de 2019
Publicado em: 16/07/2019 17h46 | Atualizado em: 30/11/2020No dia 6 de julho, a Fundação Victor Civita, instituição responsável pelo prêmio Educador Nota 10, divulgou os 50 finalistas da 22ª edição – 2019, entre os projetos selecionados está o trabalho realizado pela Professora de Educação Física, Jacqueline Martins, no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA), Aluna Jéssica Nunes Herculano, da Diretoria Regional de Educação Butantã.
As atividades foram realizadas entre os meses de setembro e novembro de 2018, com 40
estudantes, de duas turmas, com idade a partir dos 15 anos, em turnos reduzidos, por conta da rotina de organização da escola. As vivências do Voleibol aconteceram em um espaço em frente à escola.
Foram elencados como objetivos para este trabalho: conhecer, ressignificar, aprofundar e ampliar os conhecimentos dos estudantes a respeito do esporte coletivo Vôlei de idosos, buscando entender o processo de seleção das equipes ou grupos visando à igualdade durante a prática, conhecendo e vivenciando a gestualidade técnica e as táticas do esporte, assim como construir novas formas de realização que se ajustem às características do grupo.
A escolha do tema aconteceu por conta da decisão da turma em interromper o estudo da corrida de orientação, que estava em andamento, após a entrada de duas estudantes cadeirantes, tornando inviável a continuidade da proposta naquela ocasião.
De acordo com a Professora Jacqueline, o estudo da corrida de orientação não estava garantindo o acesso às aulas de educação física, e entendendo isso como um princípio básico das aulas com os estudantes optaram por mudar a prática corporal tematizada visando garantir o direito de todos participarem das aulas de forma segura e agradável.
Estudantes com deficiência – Além da participação de jovens, adultos e idosos, as atividades contaram com a presença de 16 estudantes com algum tipo de deficiência: cadeirantes, mobilidade reduzida, deficiência múltipla, deficiência física, Síndrome de Down e deficiência intelectual.
A professora responsável pelo projeto comentou que a presença de diferentes sujeitos nas turmas de Educação de Jovens e Adultos é uma realidade, se tornando um dos grandes desafios para as aulas de educação física. “Garantir que todos acessem as aulas de maneira igualitária é uma tarefa que necessita de um olhar sobre todas as diferenças presentes”, revela Jacqueline.
Rotina das aulas – Visando colaborar com a aprendizagem dos estudantes com deficiência, os participantes optaram por manter uma rotina no início e no final de cada aula. Os estudantes sempre iniciavam a atividade em círculo, conversavam sobre o que iria acontecer na aula, em seguida, eram apresentados os materiais que seriam utilizados, finalizando com a realização de alguns movimentos articulares. No encerramento das aulas, os estudantes se reuniam novamente em círculos e realizavam alguns alongamentos. Essa prática possibilitou aos estudantes identificar em quais momentos da aula estão e o que está por vir. “Essas aprendizagens se revelam como a garantia de que a escola proporciona outras aprendizagens para além dos códigos numéricos e alfabéticos”, observa Jacqueline.
O projeto percorreu as seguintes etapas:
Levantamento de informações – Com intuito de registrar o que os estudantes conheciam sobre as práticas corporais, a professora organizou um jogo com imagens de equipamentos esportivos. Era necessário encontrar os pares em um jogo da memória, onde as equipes pontuavam a cada informação que traziam sobre a modalidade que haviam encontrado.
A Professora percebeu que a utilização de diferentes estratégias pode ser mais interessante para acessar os conhecimentos dos estudantes sem que eles se sintam pressionados a contribuir com a proposta.
Em uma das turmas, visando garantir a participação da estudante Mara, que não se comunica oralmente, a aluna foi orientada a sinalizar a carta que queria virar ao bater em um sino após a professora apontar para cada uma das cartas. Essa adaptação possibilitou a sua participação no jogo encontrando as figuras correspondentes.
Por meio desta ação, foi possível realizar um levantamento de informações referentes às práticas corporais que os estudantes indicaram nas imagens utilizadas no jogo.
Experimentação – Durante a primeira vivência, as turmas puderam conhecer as medidas oficiais de uma quadra voleibol, os estudantes ficaram admirados com o tamanho, questionando a realização da prática nas dimensões propostas, em conversa, a professora revelou que o tamanho oficial simulado no espaço escolhido para as atividades era apenas para que pudessem reconhecer as inúmeras diferenças entre o vôlei que seria jogado na escola e o vôlei de idosos como é em outros locais, ou aquele visto pela televisão.
Para essa primeira experimentação, em roda, trocaram passes com a bola de vôlei com objetivo de se apropriar do material, pois muitos não haviam segurado uma bola de vôlei. Em seguida realizaram passes em duplas, pois dessa forma os estudantes experimentariam mais vezes o ato de lançar e receber a bola. Na sequência apresentaram algumas regras do vôlei de idosos que se diferencia do vôlei tradicional por segurar a bola ao invés de rebatê-la. Após estas vivências realizaram o jogo.
Reconhecendo que alguns estudantes não estavam conseguindo segurar a bola de vôlei, optaram por trocar por uma bola de espuma, com a intenção de garantir experiências satisfatórias de aprendizagem antes de utilizarem a bola de vôlei.
Esse recurso do uso da bola de espuma não serviu apenas para os estudantes com deficiência, mas também para algumas estudantes idosas que estavam tendo os seus primeiros contatos com a bola.
Nas aulas seguintes propuseram a busca pela melhoria da gestualidade, não visando à perfeição do gesto ou um modelo a ser seguido, mas a ideia era buscar a construção das suas próprias formas de jogar, permitindo um andamento na atividade sem muitas interrupções, o que costuma tornar os jogos entediantes.
Durante as atividades, procuraram diversificar as possibilidades de formação das equipes, no primeiro momento todos juntos, depois organizando jogos apenas entre os estudantes com deficiência, em um terceiro momento apenas com estudantes jovens ou sem dificuldades de mobilidade, pois dessa forma, buscou-se promover ações que permitiram diferentes experiências a todos. Também alternaram os tipos de bolas usadas durante os jogos, entretanto, sempre que a estudante Rayra, cadeirante, estava em quadra, utilizávamos a bola de espuma, pois era o único material que permitia a ela lançar a bola por cima da rede.
Exibição de vídeos sobre a modalidade – Com a intenção de ampliar e aprofundar os conhecimentos dos estudantes a respeito do vôlei de idosos foram exibidos vídeos sobre a modalidade. Nos filmes puderam observar quem eram os praticantes, as regras, as jogadas, o tamanho da quadra e a altura da rede. Analisaram também a existência de campeonatos para idosos e a influência da prática na vida de alguns deles. Os estudantes identificaram elementos importantes sobre a modalidade, como: jogadas, movimentos, pontos e faltas.
Vivência no SESC Pinheiros – Como já haviam vivenciado o trabalho com o vôlei de idosos na escola no ano de 2016, a professora tinha o contato da equipe de vôlei de idosos do SESC Pinheiros, visando ressignificar a prática corporal estudada entrou em contato e agendou uma visita no local para que os estudantes pudessem ter contato com o espaço oficial e os próprios sujeitos praticantes da modalidade.
Ao chegarem ao SESC, o primeiro espanto deu-se ao ver o tamanho da quadra. Um estudante da turma revelou que deu um “friozinho” na barriga ao ver a quadra e os jogadores.
Para essa atividade levaram a bola de espuma da escola por acreditar que seria um material importante para garantir a participação da Rayra. Realizaram atividades de integração com os praticantes do SESC, aquecimento com passes de bola, saques da linha de fundo e alguns jogos, sempre o time do CIEJA jogando contra o time do SESC. Nos momentos dos jogos, equilibravam as equipes de forma a garantir jogos mais disputados.
Durante os jogos observaram que os estudantes que aguardavam ao lado de fora faziam a leitura do jogo e torciam pelos seus colegas. Essas atitudes trouxeram motivação para acreditar nos caminhos que haviam construído até aquele momento. Neste dia, um dos estudantes que não participava das aulas foi até o SESC e jogou várias vezes, ao final da atividade procurou a turma e a professora para dizer que deveriam ter mais atividades externas como essa.
Os estudantes do CIEJA não venceram nenhuma partida, mas informaram que gostaram das atividades e ficaram surpresos com a habilidade e agilidade dos idosos da equipe do SESC. Avaliaram muito bem a forma como todo o grupo foi recepcionado, de forma muito respeitosa e preocupados com a participação de cada um.
Registro – A Professora registrou todo o processo em um caderno, anotando as falas dos estudantes, utilizando fotografias e também filmagens. Acreditava que seria interessante realizar um registro dos estudantes sobre o que construíram durante a proposta de tematização do Vôlei de idosos.
Nos últimos trabalhos realizados abriram mão do registro dos estudantes por não conseguirem construir um instrumento que captasse as aprendizagens dos estudantes sem valorizar as habilidades de leitura e escrita. Buscavam um formato de registro que valorizasse as experiências e aprendizagens vividas durante as aulas.
Optaram por um novo formato de registro, até o momento ainda não utilizado nas aulas, por meio de computadores. Para isso, elaboraram um Formulário no Google Docs, possibilitando a execução do registro na sala de informática.
No dia da finalização do trabalho foram encaminhados à sala de informática. Cada estudante sentou em um computador com o formulário aberto, juntos liam cada questão e as opções de resposta. Bastava os estudantes clicarem nas opções que mais se adequavam a sua resposta. Os estudantes que necessitavam de alguma ajuda nos chamavam e eram auxiliados de acordo com a dificuldade apresentada.
As questões presentes no registro buscaram revelar quais foram os pontos positivos e negativos do caminho percorrido e também observar as aprendizagens alcançadas no do processo de ensino e aprendizagem.
Resultados – As respostas revelaram que as aulas de educação física no CIEJA Aluna Jéssica Nunes Herculano têm se mostrado como um espaço de garantia de novas experiências para esses estudantes. Além disso, reconheceram que as aulas também se configuram como um momento de construção das suas formas de participação, visto que em muitos casos, essas aulas oportunizam o primeiro contato com as práticas corporais. Por meio do registro dos estudantes puderam observar quais ações didáticas contribuem mais na formação desses estudantes, além do reconhecimento das aulas como momento de participação de todos.
Para a professora Jacqueline, trazer para as aulas uma prática corporal que possibilita a participação de todos os estudantes consolida o direito de cada um de estar nas aulas de educação física.
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