Melina Rodolpho

Écfrase é uma composição que expõe em detalhe e apresenta diante dos olhos o objeto mostrado de maneira evidente, de acordo com Hélio Teão (I d.C.) em Progymnásmata, tratado da Segunda Sofística que consagra a definição de um procedimento bastante utilizado desde Homero. O exemplo clássico, mencionado por diversos autores, é o escudo de Aquiles, que nos apresenta uma série de imagens narrativas, um topos que observamos em outras obras; tal como na Eneida, onde temos o escudo de Eneias. Non enarrabile textum, desse modo Virgílio introduz a écfrase do canto VIII, expondo ao mesmo tempo a imagem do escudo e a narrativa nele gravada por Vulcano, “um texto que não pode ser narrado”; no entanto, a descrição detalhada transformará o objeto numa imagem visível aos olhos do leitor.

Inúmeras são as discussões a respeito do conceito de écfrase e da própria terminologia, visto que a evidência (euidentia) e a enargia (enargeia) são tratadas por alguns teóricos de forma equivalente. A proposta deste livro é investigar a teoria concernente ao assunto desde a Antiguidade Clássica e apresentar exemplos em vários gêneros. Para isso, procurei levantar proposições de vários autores e de épocas diversas que estabelecem a relação entre imagem e texto; com isso, precisamos estudar a fantasia (fantasia), um mecanismo anímico que nos permite produzir a imagem de objetos ausentes.

Espera-se que o quadro teórico apresentado neste livro possa suscitar discussões a respeito da écfrase, pouco abordada pelos estudantes no Brasil na época de sua publicação, mas que já representava objeto de estudo do Grupo Imagens da Antiguidade Clássica, coordenado pelo Professor Dr. Paulo Martins, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.