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De elétrica à confeitaria: conheça histórias de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pelos cursos da SME

Os Centros Municipais de Capacitação e Treinamento oferecem cursos gratuitos profissionalizantes; assista a reportagem em vídeo e conheça a trajetória de alguns estudantes

Publicado em: 05/10/2021 14h19 | Atualizado em: 06/10/2021
Estudantes e professor do curso de elétrica. Eles estão olhando e manuseando os equipamentos elétricos sob a mesa.

“O curso pode ser pra moça também?” Essa é uma das perguntas que o professor responsável pelo Centro Municipal de Capacitação e Treinamento I – São Miguel, Paulo Francisco dos Santos, o Paulinho, ouve de muitas estudantes quando vão procurar informações sobre o curso de elétrica, um dos nove cursos profissionalizantes oferecidos pelo projeto.

Izis Juciara Silva dos Santos é estudante da terceira turma deste curso, em 2021, e conta que cansou de levar os aparelhos do seu salão de beleza para consertar. Agora, ela mesma quer arrumar seus instrumentos de trabalho. “Eu tenho medo até de tomar choque, mas eu vou conseguir porque a gente tem que lidar com nossos próprios medos”, diz ela que adorou as aulas.

Os Centros Municipais de Capacitação e Treinamento (CMCT), da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, oferecem a jovens e adultos cursos livres de formação inicial profissional de curta duração, gratuitos e com carga horária mínima de 160 horas. São cursos de Auxiliar Administrativo, Auxiliar de Eletricista com Reparador de Eletrodomésticos, Auxiliar de Logística, Auxiliar de Mecânico, Auxiliar de Recursos Humanos, Confeiteiro, Corte e Costura, Informática e Padeiro.

O CMCT I – São Miguel Paulista foi o primeiro a ser criado e existe há 28 anos. O segundo, o Centro Municipal de Capacitação e Treinamento II – Itaim Paulista funciona desde 2005. Eles fazem parte da Diretoria Regional de São Miguel Paulista, na zona leste da capital. Os CMCTs funcionam de segunda à sexta-feira, com turmas de manhã, tarde e noite.

A estudante Juliana Bezerra da Silva fez confeitaria, na turma da professora Izilda, tem um negócio próprio – a cantinna.juh. Ela criou uma página no Instagram para divulgar suas produções e também faz entrega por aplicativo. Ela conta que essas conquistas aconteceram devido aos seus aprendizados no curso.

Além da Izis e da Juliana, na reportagem em vídeo você vai conhecer a história das irmãs Raimunda e Clarice, que fizeram curso de informática, e da Raquel, filha de Raimunda, que incentivou a mãe e a tia a irem estudar. O Mário e o Renan, dois adolescentes, que participaram da turma de corte e costura e desejam ter a própria marca sustentável. Aperte o play aqui abaixo para conhecer essas e muitas outras histórias. 

 

Ficou interessado em participar? Estudantes da rede pública a partir de 14 anos, da Educação de Jovens e Adultos e a comunidade em geral podem se inscrever para realizar os cursos. As inscrições para as novas turmas são feitas por meio de link divulgado nas redes sociais dos dois Centros Municipais de Capacitação e Treinamento. E podem ser acessadas aqui: Facebook CMCT I – São Miguel e Facebook CMCT II – Itaim Paulista. No decorrer do ano letivo, abrem novas turmas a cada bimestre.  

Foram muitas histórias bacanas, não é mesmo? Ainda tem mais! Conheça a trajetória de outras pessoas que já passaram pelos cursos ou que ainda fazem parte do CMCT.

“Todos os cursos que fiz no CMCT me fizeram ser a mulher que sou hoje”

Fotografia de uma mulher sorrindo, ela tem cabelos médios, ela sorri e veste camiseta cinza escuro. Ao fundo na parede, máquinas e produtos de máquinas agrícolas.

Roseli em seu atual trabalho.

Roseli Alves Sousa fez seis cursos do CMCT São Miguel e todos contribuíram para que ela tivesse oportunidades de trabalho e uma qualidade de vida melhor. Ela fez os cursos de estamparia, que já não existe mais, elétrica, mecânica, auxiliar administrativo, panificação e confeitaria.

Roseli conta que sempre foi fascinada por “chaves e tudo que o homem trabalha”. Ao fazer o curso de mecânica teve a sua primeira oportunidade de trabalho na oficina de seu colega. Depois, conseguiu emprego na Porto Seguro, onde ficou por cerca de dois anos. Esse momento foi “surreal” para ela e teve oportunidade de aprender mais sobre a linha branca de eletrodomésticos e tudo o que envolve cozinha e área de serviço.

Ela tinha ido ao centro da cidade levar o currículo, quando pegou um “jornal amarelinho” e viu que estavam precisando de um prestador de serviços. Então, entrou em contato com o RH da empresa. Fez entrevista, entregou seus documentos, contou sobre sua experiência. Fez o teste psicológico, o exame escrito e o prático, no qual consertou lavadora, micro-ondas, máquina de lavar e geladeira. Após duas semanas estava trabalhando na base.

Fotografia com sete pessoas em pé. São seis homens e uma mulher. Eles estão em seu ambiente de trabalho, eles vestem uniforme da empresa e cada um segura uma peça de eletrodoméstico em suas mãos.

Roseli e os colegas na época em que trabalhava na Porto Seguro.

“Foi o curso do CMCT que ajudou a conquistar essa oportunidade de trabalho, pois já fazia os consertos na casa dos vizinhos, dos amigos do bairro e por indicação de alguém. Tinha o curso e essas experiências. Isso me trouxe essa oportunidade na Porto Seguro”, contou Roseli. Ela foi uma das primeiras mulheres a trabalhar nesse setor da empresa. E quando era recebida pelas clientes em suas residências para fazer os consertos, lembra que ouvia delas “Agora veio uma moça, melhor ainda!” porque se sentiam mais à vontade com Roseli.

Hoje, Roseli trabalha na parte administrativa da Wepp – Assistência Técnica fazendo compra de peças, pagamento de funcionários e boletos em geral, entre outras funções administrativas. Porém, ela começou o trabalho na atual empresa quando viu uma plaquinha em frente ao estabelecimento dizendo que precisavam de técnico. No início consertava máquinas, aprendeu a mexer em roçadeira e motosserra. Segundo ela, esta oportunidade também foi conquistada por ter realizado o curso de Auxiliar Administrativo no CMCT, com a professora Paloma.

Mesmo nas horas livres, Roseli não para de trabalhar. Com todos os cursos que fez no CMCT adquiriu muito aprendizados e quando surge um serviço extra, ela aceita. Com os cursos de panificação e confeitaria Roseli faz massas, bolos e doces para vender. Além de fazer outros serviços como conserto de geladeira, microondas, máquina de lavar roupa, secadora e muito mais.

Fotografia da de uma turma com 14 estudantes posando para a câmera. São 3 homens e 11 mulheres.

Turma do curso de panificação com a professora Adriana, em 2013.

“Todos os cursos que fiz no CMCT me fizeram ser a mulher que sou hoje, pois eu nem trocava o gás de casa e nem resistência de chuveiro. Hoje tenho conhecimento em muitas coisas. Graças a Deus e aos Professores do CMCT”, finalizou Roseli.

Um chef muito famoso

Fotografia de um homem usando avental com seu nome 'Flávio' bordado. Ele segura uma travessa grande, funda e arredondada branca em uma das mãos. Está olhando para a câmera e sorrindo. A sua frente tem uma bateria e ao fundo uma geladeira e freezer.

Flávio na 4ª edição do Bake Off Brasil, do SBT.

Flávio Ribeiro é um ex-aluno do curso de confeitaria do CMCT São Miguel. Em 2018, ele ficou muito conhecido por participar da 4ª edição do programa Bake Off Brasil – Mão na Massa, exibido no SBT. Porém, a sua trajetória é longa e já passou pelo Centro Municipal de Capacitação e Treinamento, da SME-SP.

No início de sua carreira profissional em redes de supermercados da região de São Miguel Paulista, zona leste da capital, quando ainda realizava a função de estoquista, recebeu seu primeiro convite para trabalhar em uma padaria.

Fotografia de duas pessoas vestidas com o uniforma da padaria. Eles usam toca e estão parados em frente as prateleiras com bolos e pães.

Flávio e o colega de trabalho no mercado na zona leste da cidade.

A partir desse momento, começou a procurar cursos para se aperfeiçoar. Ele lembra que, à época, não tinha condições de pagar um curso profissionalizante e se sentiu muito privilegiado por ter sido sorteado com uma vaga no curso de confeitaria no CMCT. “Aprendi muitas coisas que me ajudaram no dia a dia da confeitaria do supermercado. Depois, eu tive outra longa história nos dois Centros Municipais de Capacitação e Treinamento, pois comecei a dar cursos para os alunos”, relembra.

 “Eu tenho um carinho muito grande pelos dois Centros. Você não tem ideia”, disse. Quando ia dar os cursos no CMCT levava seus produtos e materiais, também contava sua história e como tudo começou, sempre incentivando muito os estudantes a seguirem carreira na confeitaria. Ele deu cursos nas duas unidades por cerca de oito anos. E até hoje recebe recado dos estudantes dizendo: “Nossa, professor Flávio, sinto saudades dos seus cursos”.

Fotografia de uma turma de estudantes do curso de confeitaria. Ao centro o professor, veste roupa preto, ao lado da professora que está de avental. Ao redor deles, 15 estudantes entre homens e mulheres. Todos usam avental e touca no cabelo.

Flávio e a professora Vanda Varrichio com estudantes em uma aula do curso de confeitaria. Imagem feita antes da pandemia.

Mas não pense que esse foi o primeiro contato de Flávio com este universo. Desde pequeno cresceu ajudando o pai em sua padaria. Em suas memórias está a imagem do pai acordando ele e o irmão gêmeo na madrugada e os levando para ajudar o padeiro e o confeiteiro. Ele disse que o irmão não gostava muito, mas para ele era “um encanto” estar lá. “Me enchia os olhos a transformação da farinha, do açúcar, o cheiro do pão, os padeiros e confeiteiros fazendo os doces”, comentou. 

O pai dizia para Flávio que queria ver o filho estudando e em outra profissão, mas não dentro de uma padaria. Porém, Flávio disse: “Não, pai. É isso que eu quero pra mim. Vou estudar e me dedicar”. Quando o pai percebeu que o filho estava crescendo na profissão, ficou muito orgulhoso.

E assim o chef confeiteiro foi construindo sua carreira profissional. Fez curso no CMCT, também foi buscando outras formações e se especializando. Conquistou novas oportunidades de trabalho. Foi chef de confeitarias, trabalhou em grandes empresas como a Rich’s do Brasil e a Vigor, entre outras. Hoje em dia, Flávio mora em Itajubá (MG) e, com a noiva, possui uma empresa própria – a confeitaria Bake Show Oficial, onde produz e vende suas delícias.

Lugar de cooperação, alegria e esperança

Fotografia mostra a sala de aula do curso de elétrica, a professora veste blusa amarela e segura um alicate com a mão direita. Há seis estudantes ao redor dela e do aparelho de micro-ondas sobre o balcão.

Ana Paula com os estudantes de elétrica durante a aula sobre conserto de eletrodomésticos.

A professora Ana Paula Amorim Monteiro é a primeira mulher a ministrar o curso de elétrica no CMCT. Isso contribuiu para a quebra de paradigmas com relação às mulheres na elétrica e para a identificação das estudantes que realizam a formação. Ana Paula fez o treinamento para dar aulas de elétrica com os outros professores do CMCT e iniciou sua primeira turma dia 26 de julho. A gestão quis inovar trazendo uma professora mulher para o curso.

Ana Paula fala que além de ter sido bem acolhida pelos alunos e equipe, há a identificação por parte das mulheres e que essa já é uma realidade da vida de muitas. Parece ser uma coisa muito distante da nossa realidade, mas não é. É bem próximo porque é a mulher ocupando o lugar que ela ocupa mesmo”, muitas estudantes consertam o chuveiro de suas casas e fazem o reparo de seus próprios eletrodomésticos.

Os estudantes têm muito respeito pela professora, são cuidadosos, mas se surpreendem quando ela carrega um micro-ondas de um local para o outro, quando manuseia um alicate tendo unhas longas, quando corta uma chapa de micro-ondas. “Nossa, professora, você consegue fazer isso com essa unha?”, dizem alguns alunos.

Fotografia de uma grupo de estudantes na sala de aula do curso de elétrica. Ao centro, a professora veste blusa amarela e casaco preto, ela tem cabelos longos, a sua frente sobre a mesa está uma placa de madeira com um circuito elétrico de lâmpadas e fios. Ao redor dela estão 9 estudantes, uma mulher e oito homens.

Ana Paula e estudantes em atividade com ligação de lâmpada sem série.

Os participantes acham as aulas “sensacionais”. Para Ana Paula, o CMCT “É um lugar de cooperação, de alegria, de esperança”. Eles atendem estudantes de faixas etárias diversificadas e muitas pessoas aposentadas. E lá, segundo a professora, eles passam horas muito felizes, além de terem oportunidade de receber uma capacitação com certificado que traz uma melhor condição de vida e a possibilidade de se inserir no mercado de trabalho.

Falando em professora, Vanda Varrichio, que dá aulas de confeitaria, e Raquel Dias, de panificação, na unidade Itaim Paulista, já foram destaques do Boletim da Educação Municipal, na 13ª edição.  Clique aqui e relembre a história delas.

Ficou interessado em conhecer os Centros Municipais de Capacitação e Treinamento? Acesse a página Educação de Jovens e Adultos no Portal SME.

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