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Centenário de Paulo Freire: relembre a história e trajetória do educador na SME

Patrono da Educação foi secretário municipal em SP entre 1989 e 1991; "Ele era capaz de acolher as discordâncias, como também debater com quem tinha pensamentos diferentes dos dele", disse Mario Sergio Cortella, em entrevista exclusiva ao portal da secretaria Municipal da Educação de SP

Publicado em: 19/09/2021 10h01 | Atualizado em: 19/09/2021
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“Aos que fazem a Educação conosco em São Paulo”. Esse foi o título da primeira carta escrita por Paulo Freire, educador e filósofo, como secretário Municipal da Educação, em 1989, aos docentes da época. Neste domingo (19), Freire completaria 100 anos e apesar de não estar mais vivo, deixou um enorme legado para a Educação com lições que são colocadas em prática todos os dias.

Nascido em Recife (PE) em 1921, Paulo Reglus Neves Freire ficou conhecido a partir da criação de um método de alfabetização que tinha como objetivo ensinar a partir de palavras que faziam parte da realidade das pessoas. A prática foi aplicada pela primeira vez na cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, com 300 trabalhadores rurais adultos que não haviam tido acesso a escola. A ideia era que os trabalhadores fossem ouvidos e pudessem aprender com base em palavras que faziam parte de suas rotinas, diferente das cartilhas que eram usadas até então, para a partir daí desenvolverem seus estudos. O processo aconteceu de forma rápida, terminando em cerca de 40 horas com todos os participantes alfabetizados.

Com o trabalho bem-sucedido, Paulo Freire foi convidado pelo governo a ajudar em um plano maior de alfabetização, porém, o trabalho foi interrompido pela Ditadura Militar. Preso em 1964, ele saiu do Brasil e passou alguns anos em países como o Chile, Estados Unidos e Suíça. Na década de 80, quando retornou ao país, assumiu a cadeira como secretário da Educação em SP.

Presença inspiradora

O professor e filósofo Mario Sergio Cortella tem memórias muito vivas da época em que trabalhou com Paulo Freire na SME. Ele foi chefe de gabinete durante sua gestão e compartilhou momentos importantes ao lado do patrono da educação. “Estar com Paulo Freire não era apenas um privilégio, mas uma honraria especial por sua experiência, que sem dúvida fazia com que sua presença não fosse apenas inspiradora, mas também a noção de um compromisso. Ele era um chefe, ocupava um cargo e tinha muitas responsabilidades que eram resolvidas de forma firme, mas com afetividade”, contou Cortella, em entrevista exclusiva ao portal da secretaria municipal da Educação de SP.

Mesmo com a presença de computadores em alguns setores, Cortella lembra que Paulo Freire gostava de escrever à mão e sempre em papeis sem linhas. “Sua letra ia escorrendo, é interessante lembrar que alguém responsável por escrever tantos livros gostava de fazê-los dessa forma”, comentou. Na SME, a COPED (Coordenadoria Pedagógica), por meio do Centro Multimeios/Memória Documental, armazena alguns desses registros, como o decreto nº 27.813, de 12/6/89, sobre uma reorganização administrativa parcial da secretaria. (Veja a galeria de fotos abaixo).

Para Cortella, a metodologia de Paulo Freire é algo atemporal, que continua sendo importante para o desenvolvimento e aprendizado. “Não se pode fazer um ensino que seja distante das pessoas. O método vai se reinventando, mas já vi experiências aqui no Brasil e em outros países da metodologia de Paulo Freire sendo aplicada com o uso de celulares, por exemplo”.

Após anos de uma convivência tão próxima, Mario Sergio Cortella conta que o principal ensinamento deixado pelo professor foi a humildade pedagógica. “Ele era capaz de acolher as discordâncias, como também debater com quem tinha pensamentos diferentes dos dele. Paulo Freire era humilde em saber que não conhecia todas as coisas e prestava muita atenção nas pessoas. Esse é um exercício que eu também tento fazer todos os dias”, concluiu ele.

Para o atual secretário Municipal da Educação, Fernando Padula, esta também é uma qualidade admirável do professor. “Paulo Freire deixou seu legado e é muito importante que possamos continuar valorizando tudo o que ele nos ensinou”.

Projeto de alfabetização criado por Paulo Freire permanece ativo

Como secretário, Paulo Freire permaneceu até 1991 e sempre manteve seu discurso por uma educação com base na liberdade. Foi nesta época que nasceu o MOVA SP (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), importante ação para a alfabetização popular na cidade. Atualmente, a Rede Municipal de Educação de São Paulo possui mais de 10 mil educandos matriculados em 530 turmas. As salas são criadas em áreas mais vulneráveis da capital.

A professora Iraci Ferreira Leite, de 72 anos, que hoje atua na coordenação do Fórum Municipal do MOVA SP e na diretoria do espaço de formação, assessoria e documentação, conta que Paulo Freire gostava de usar assuntos do cotidiano para discutir coisas sérias. Ela relembrou a ocasião em que ele deixou uma reunião na secretaria para ir até uma escola após saber de uma situação entre professora e aluno. “Chegou até ele que a professora havia recolhido a bola de um aluno, que estava brincando na sala durante a aula. Mas, além disso, ela também furou a bola e isso fez Paulo Freire decidir ir até lá conversar com todos. Ele disse que a professora poderia ter pegado a bola, já que era uma autoridade, mas nunca furado o brinquedo, pois isso era autoritarismo, o que não combina com educação”, comentou.

Há 32 anos atuando na SME, a servidora Erika Ferraz Gasparini, 54, trabalhou com Paulo Freire desde o primeiro dia de sua gestão e também possui boas lembranças.

“Nós víamos muito o professor Paulo pelos corredores da secretaria, falando com todos sempre que podia, mesmo com tantos compromissos. Ele gostava de ouvir as pessoas, o gabinete estava sempre de portas abertas. Lembro bastante do sotaque nordestino dele, gostoso de ouvir e que era possível identificar até quando ele falava em inglês pelo telefone com alguém”, relembra.

Atualmente, sete unidades municipais levam o nome de Paulo Freire, sendo uma EMEF, um CEU EMEI e cinco CEIs, além das que utilizam seu método na rotina de aprendizado dos estudantes.

 

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