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‘A recepção na escola foi ótima, me senti muito feliz’, diz aluno haitiano que se tornou professor voluntário

Olson estuda no Cieja Perus que atende uma grande quantidade de estudantes migrantes; na unidade leciona a professora Cristiane Fialho que ressalta a necessidade de acolhimento e direitos reconhecidos

Publicado em: 05/07/2021 14h23 | Atualizado em: 05/07/2021
Professor e estudantes em frente a lousa com palavras escritas em Crioulo. Eles seguram uma caixa de chocolate.

Olson Oscar é haitiano, está há 5 anos no Brasil e é aluno de Educação para Jovens e Adultos (EJA) do Cieja Perus I. Lá, ele também atua como professor voluntário nas oficinas da sua língua nativa, o crioulo haitiano. No total, a rede municipal de ensino de São Paulo possui 7.777 estudantes migrantes matriculados e possui diversas políticas públicas voltadas a este público. 

“A recepção na escola foi ótima, o povo brasileiro é acolhedor, me senti muito feliz quando cheguei, para mim é muito importante aprender sobre a cultura brasileira”, diz Olson.

O Cieja Perus I, foi criado em 2016 e fica na zona norte da cidade de São Paulo, a presença de migrantes do Haiti é predominante nessa região que é palco do encontro entre a professora Cristiane Maria Coutinho Fialho e o professor e estudante Olson.

Cristiane conta que seu trabalho é fundamentado nos preceitos de Paulo Freire, um pensador que é referência na educação de jovens e adultos, além de ter uma trajetória expressiva na Secretaria Municipal de Educação no passado. Para ela, “aprender a lidar com diferenças e respeitá-las sem querer ‘colonizá-los’ é um importante princípio que se encontra na obra freireana”.  “Assim fui compreendendo as horizontalidades dos saberes e o valor do verdadeiro trabalho colaborativo no ato de ensinar e aprender dentro de sala de aula a que Freire se referia”.

Imagem mostra professora, ao fundo placa de identificação da Rua Marielle Franco.

É nesse encontro das culturas que ocorre um processo dialético de ensino e aprendizagem, onde professor e aluno se misturam e a compreensão da dimensão cultural precisa ser diversa possibilitando a ampliação das perspectivas. 

Para Cristiane há diversas dimensões, uma delas pode se dar de maneira orgânica, pelo convívio de estudantes e alunos de múltiplas culturas dentro do ambiente escolar. Mas há também outras formas que podem ser objetos de estudos e metodologias mais aprofundados, como: hábitos alimentares; festas; rituais, se utilizando da historiografia e etnografia. Tudo isso pode servir para entender as diferenças e convergências que existem com o Brasil em relação ao Haiti, que é a principal comunidade atendida pelo CIEJA Perus. 

‘Respeito e carinho’

“O importante é estarmos atentos a uma audição aberta, respeitosa e acolhedora, transformando essa dinâmica e possibilitando que os migrantes tenham seus direitos reconhecidos”, afirma a professora. Para ela, é primordial “que os migrantes conheçam seus direitos básicos para que não sejam explorados e saibam se defender do racismo e xenofobia que possam vir a sofrer e, para isso, é necessário o aprendizado da língua portuguesa, dos nossos costumes sociais e da nossa historicidade”. Quando perguntada sobre o que pode ajudar para que os estudantes se sintam bem recebidos ela é categórica: “Respeito e carinho: isso serve para qualquer estudante”.

Imagem mostra professor com a mão apontando para palavras escritas na lousa.

A professora ressalta a necessidade de enxergar a permanência como um direito daqueles que tiveram essa oportunidade negada em algum momento de sua vida. E não poderia ser melhor colocado do que em suas próprias palavras: “é muito importante garantirmos o direito de estar no ambiente escolar àqueles que em algum momento de sua vida tiveram seu direito negado por algum motivo; é necessário que os estudantes se sintam respeitados em suas especificidades”. “Esse é o caso da EJA (imigrante por si só, pois muitos estudantes são de origem nortista e nordestina do nosso país) e também dos imigrantes internacionais que lá estão e que no nosso caso, são haitianos”.

O direito de permanecer é exercido de forma enriquecedora para a cultura, retornando às pessoas da comunidade. Olson conta: “eu tenho ensinado muitas pessoas sobre minha cultura, sobre culinária, língua (crioulo haitiano), música e outras coisas”. E esses valores culturais são aqueles que perduram nos estudantes, professores e cidadãos.

“É necessário também que nós, docentes, estejamos abertos a novos aprendizados e não tenhamos receio do acolhimento, porém, é necessário e fundamental que saibamos que a mesma cultura que acolhe pode ser silenciadora e preconceituosa em relação às diferenças. Não podemos ser silenciadores sob a desculpa de sermos ‘acolhedores’ como se fosse um favor esse nosso acolhimento; eles têm o direito de estarem lá  e isso é carinho e respeito” – Cristiane Maria Coutinho Fialho

Cristiane Maria Coutinho Fialho é graduada em Letras (Universidade Gama Filho – FEUC/RJ). Leciona português desde 2005 na rede estadual de ensino nos segmentos de ensino médio regular e ensino médio/EJA e na rede municipal de ensino leciona português para o ensino fundamental regular e ensino fundamental/EJA. Atuou como coordenadora pedagógica de ensino fundamental na rede estadual de educação do estado de São Paulo entre 2007 e 2011. Foi formadora na rede municipal em SME – SP/DRE-PJ no curso “Interdisciplinar a caminho da autoria” entre 2014 e 2016. Desde 2016, leciona Língua Portuguesa no CIEJA PERUS I, instituição que possui majoritariamente o corpo discente de imigrantes haitianos. Foi premiada em 2017 pelo Prêmio Territórios: Instituto Tomie Ohtake.

Olson Oscar é professor de crioulo haitiano nas oficinas do CIEJA PERUS I e eletricista no Brasil. No Haiti lecionava para o ensino fundamental. E são esses conhecimentos que permitem ele ensinar sua cultura e língua para toda a comunidade.

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